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Mestre em Educação e doutorando em Sociologia, Issaka Maïnassara Bano (@ issaka.bano ), nasceu no Níger, país da África Ocidental. Morando no Brasil há 14 anos, o intelectual consegue ter uma visão mais ampla sobre os dois mundos, a literatura e as discussões promovidas por aqui em torno do continente africano, para ele, muitas vezes viciadas e rodando em círculos.
Aproveitando que o Dia da África é celebrado este mês, no dia 25 de maio, Issaka propõe uma série de provocações sobre as discussões acerca de negritude, literaturas africanas e vícios acadêmicos sobre o continente africano.
Issaka tem promovido ciclos de formação nas escolas da periferia de São Paulo, incentivando o debate sobre a inserção das literaturas africanas no ensino brasileiro. Para o sociólogo, a leitura e os diálogos em cima dessas obras precisam ser realizados de forma expandida e com menos estereotipação em cima de temas como ancestralidade, oralidade e religiões de matriz africana.
"Obras de escritores e escritoras como a Chimamanda Ngozi Adichie, Alain Mabanckou, Léonora Miano, Ali Zamir e Yaa Gyasi também trazem outras realidades, como o aprofundamento das narrativas dentro de uma África culturalmente diversa e moderna. É claro que a gente deve sempre estudar e falar de ancestralidade, oralidade e religiões matriz africana, afinal de contas, elas são bases fundamentais para entender o continente, mas ao mesmo tempo eu acho que não dá para ficar o tempo todo só nisso, né?”, reflete.
Segundo o estudioso, um continente do tamanho da África não pode ser tachado por meia dúzia de pautas. “Um tempo atrás, tinha uma menina que participou de um projeto comigo, e o sonho dela era chegar na Nigéria e conhecer os terreiros, aí quando ela chegou lá, não tinha terreiro, mas dezenas de outras outras coisas”, exemplifica o intelectual.
Como exemplo da busca por se desvencilhar dessa unilateralidade nos debates sobre a África na literatura, Issaka cita o economista bissau-guineense Carlos Lopes que costuma dizer que “ essa África que o ocidente idealiza existe, mas vai muito além disso”.
O educador explica que “negritude” foi cunhado pelo intelectua Aimé Césaire nos anos 30, mas para dissecar uma demanda daquele momento sobre a construção do que seria o negro. O Brasil abraçou com força a ideia de negritude, mas se tornou tão precioso que dificilmente se fala sobre qualquer coisa relativa ao negro sem invocar a palavra, mesmo que não se entenda o contexto em que ela foi criada.
De fato, é importante que tenhamos a oportunidade de aprender e refletir a partir de um olhar que provoque sair da zona de conforto mesmo dentro de um assunto que historicamente já é desconfortável. Que sejam conhecimentos que estejamos abertos a refletir todos os dias e não só no Dia da África. “Seria uma baita de uma polêmica propor uma reformulação disso, porque no Brasil é muito forte essa questão de Negritude, né? Aí eu pego e falo ‘vamos precisar de algo mais’, as pessoas vão falar ‘você tá maluco’. mas eu acho que tem que ter esse esse debate”, conclui Issaka Bano.
Redação do Africanize
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