A sociedade do consumo, também consome pessoas
Por Ciça Pereira
Por: Suellen Massena
Eu amo o amor. Sim, ele sempre esteve presente em minha vida.
Quando eu tinha 2 anos de idade, ao sair de casa pro trabalho, meu pai, da entrada da rua onde cresci, parava e dizia: ‘ Filha, papai te ama, viu?’ Eu não sabia exatamente o que era amar e ser amada, mas ainda assim, toda vez que meu pai se despedia de mim com essa frase, eu vibrava de alegria!
Mas, confesso, ainda não sei se de fato, sei amar do jeito certo. E aí eu pergunto: Existe um jeito certo de amar? tem uma fórmula exata pro amor?
Meu pai me deu o amor da maneira que recebeu ao longo de sua vida: do jeito que foi ensinado a amar, como foi amado e como se amou. Eu entendi isso melhor quando outros amores cruzaram o meu caminho.
Nesses encontros, me vi também descobrindo outras formas de amar e ser amada.
Meu pai me apresentou o amor e valores que se tornaram inegociáveis para qualquer relação. Mas o meu maior desafio foi: Aprender a separar o que fazia parte da história dele, mas não precisa fazer parte da minha.
Com as minhas próprias experiências, entendi que não posso, em hipótese alguma, esquecer o amor próprio. Independente do formato da relação.
Como foi poeticamente cantado pelo coletivo POSS ( Proteja o seus sonhos) : ‘ O amor mora no espelho!’.
E eu sei, por muito tempo, foi (e talvez para alguns ainda seja.) difícil amar o que o espelho reflete. Afinal, ele mostra tudo aquilo que por muito tempo não foi considerado belo ou digno de ser admirado, de ser amado. Acontece que às vezes, o espelho é o outro. Um amigo, uma irmã, um pai...Ainda que a gente não perceba, sempre nos espelhamos em alguém.
Cultuando Oxum, aprendi que iremos amar e enxergar o outro, apenas se formos capazes de nos enxergar e nos amar. Ficar frente a frente com o espelho e admirar o que ele reflete, sem narcisismo.
É preciso me conhecer do avesso, para quando o avesso do outro estiver diante de mim, eu não o olhe com estranheza. E saiba os limites do que posso e quero aceitar nessa troca.
E aí eu também compreendi: Descolonizar o amor é necessário! Por muito tempo nos fizeram acreditar que amor para ser bom, tinha que doer ou ter dramas dignos de novela das oito.
O amor gosta de solo fertíl, bem cuidado, iluminado, e de ser regado, para brotar e crescer livre. E isso demanda tempo, disposição e paciência! ele precisa ser cultivado.
Para nós, pessoas pretas, embora nossas relações sejam construídas a base de muito afeto, falar de amor sempre acaba ficando em segundo plano, diante de tudo o que nos atravessa e precisamos dar conta. Sempre há um assunto mais urgente, que merece atenção imediata.
E o amor, não merece atenção? Ser olhado, compreendido e compartilhado com calma...
Dr. Renato Noguera disse uma vez que o amor é um axé poderoso.
A força que o amor tem, é única, potente, transformadora !
Talvez por isso seja tão interessante para alguns, que ele se mantenha distante de nós.
Até aqui, o amor foi bom pra mim. E posso afirmar: Nunca sofri por sua causa.
Talvez tenha sofrido quando percebi que ele não se fazia mais presente, ou quando precisei me despedir dele.
Ou, quando criei ideias mirabolantes de como ele deveria ser, caindo em ilusões, sem perceber que ele é subjetivo, sim. Mas muito mais leve do que a gente imagina.
O amor está presente em trocas sinceras, cresce no diálogo, na disponibilidade. Ele goza quando a gente se movimenta impulsionado por ele. Por que amor é, sobretudo, ação.
Bom, eu não sei muito sobre o amor. Ainda sou amadora.
Mas o que sei, é que sem dúvidas, tal qual o meu pai, ele é um bom professor! Desejo que a gente possa sempre aprender com ele.
o cuidado como dimensão político-afetiva da proteção entre pessoas negras por joão marcos bigon
Por: Dr. Osei Akuamoa Júnior