• 21-11-2024

Estudo da Faculdade de Medicina revela ainda que chance é duas vezes maior entre homens negros do que em mulheres brancas.

diabetes mellitus é uma doença crônica metabólica caracterizada por níveis elevados de  glicose  no sangue; a  hiperglicemia . Também causa alterações no metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, resultantes de defeitos da secreção e/ou ação da  insulina , que pode levar a sérios danos ao coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos periféricos.  

 

Comparadas às mulheres e aos homens brancos, mulheres pretas têm mais chances de apresentar controle inadequado de diabetes tipo 2, seguidas de mulheres pardas e homens negros (pretos e pardos), indica tese de doutorado da pesquisadora  Gisseila Garcia defendida na Faculdade de Medicina. O estudo mostra que mulheres negras (pretas e pardas) e homens pretos apresentam mais que o dobro da probabilidade de controle glicêmico inadequado depois de nove anos de acompanhamento.  

AD_4nXfsUrVVRFi7FJuoUu1TJ1z2OIjikHtix9l9K8IWlBeWcRgFFht9JaV5ooRb2dljODD9bAGzebW-SgRgL17VKjMZeD9vl_CIad4nYq66NMTpDSVM6r2RQi9yozlbov24Nzwh4qTHaePqhNGIx-TcU7M1DCsK?key=p3dJb6SE8IpbhIb94DojvQ
Mulheres pretas têm maiores chances para controle inadequado de diabetes tipo 2, aponta estudo  

A literatura especializada mostra que, em linhas gerais, as mulheres têm mais dificuldades de controlar sua glicemia em razão de fatores biológicos ou endócrinos. No entanto, o estudo de Gisseila acrescenta a variável de raça, que relativiza o peso da dimensão de gênero: além das mulheres pretas e pardas, o controle glicêmico de homens pretos também tende a ser menos efetivo na comparação com pessoas brancas.   

 

A autora explica o que pode justificar esses resultados.  “É necessário pensar nos fatores de risco para diabetes tipo 2. Quando se faz uma estratificação para identificar quem tem menos acesso a serviços de saúde de qualidade, mais insegurança alimentar, menos acesso a uma alimentação adequada, mais comportamento de risco em saúde, obtém-se um claro recorte populacional. Tudo isso condiciona o surgimento de diabetes e contribui para um controle menos efetivo, porque, para um controle adequado, é necessário ter acesso aos medicamentos e aos cuidados de saúde, estilo de vida saudável, entre outros atributos” , explica Gisseila.  

 

Para a autora, estudos como o seu podem direcionar melhor as intervenções de programas de controle de diabetes e auxiliar na elaboração de ações como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. A análise foi feita com dados do Estudo Longitudinal em Saúde do Adulto (Elsa Brasil), de 2008 a 2019, em três visitas de monitoramento realizadas por telefone. O Elsa é uma coorte multicêntrica formada por cerca de 15 mil servidores públicos federais ativos ou aposentados, de universidades e institutos de pesquisa localizados em seis capitais brasileiras (Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória).  

 

Ao longo dos anos, todos os grupos monitorados registraram maior descontrole nos níveis de índices glicêmicos, fenômeno mais evidente entre as mulheres pretas. Na análise, as chances de controle inadequado se revelaram maiores entre pretos e pardos (tanto homens quanto mulheres). O grupo com menos prevalência de diabetes tipo 2 no estudo foi o de mulheres brancas. Esse resultado, destaca Gisseila Garcia, contradiz a literatura, segundo a qual as mulheres formam o grupo mais propenso a doenças crônicas não transmissíveis. Daí a necessidade de uma análise interseccional, que contemple as dimensões raça, gênero e classe social em conjunto.   

 

De acordo com a pesquisadora, a abordagem interseccional possibilitou revelar diferenças ocultas e mascaradas em estudos que se concentraram apenas nos fatores gênero ou raça/cor da pele separadamente, deixando invisíveis grupos de indivíduos em situações de maior vulnerabilidade.  

 

“Há uma produção de conhecimento hegemônica e branca, que trata a população com base em uma ótica universal. Ou seja, existe a mulher universal e o homem universal. Grupos histórica e socialmente marginalizados são invisíveis. Por isso, a análise interseccional é tão importante” , insiste a recém-doutora.  

 

O estudo também concluiu que não há grandes diferenças de predisposição para a diabetes quando se trata da comparação entre homem branco e mulher branca. Ao incluir o recorte de raça, o consenso hegemônico é quebrado.   

 

Fonte : Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da da UFMG  

Redação Africanize

Redação do Africanize