22 de outubro de 2025

Afri News

Professora negra aprovada em 1º lugar na USP tem concurso anulado após ação judicial de candidatos brancos

Caso reacende debate sobre racismo estrutural e exclusão de docentes negros no ensino superior

• 17/10/2025
Thumbnail
Reprodução: @erica_bispo

A professora e doutora em Literatura Érica Bispo conquistou o 1º lugar no concurso público para docente da Universidade de São Paulo (USP), na área de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. O resultado, contudo, foi anulado após uma ação judicial movida por seis candidatos brancos que alegaram “favorecimento” e “amizade íntima” entre Érica e membros da banca avaliadora.

Érica foi a única mulher negra entre os concorrentes. Ela explica que as acusações partiram de fotos de eventos acadêmicos comuns entre pesquisadores da mesma área usadas pelos autores do processo como suposta prova de proximidade. “Eles disseram que eu não tinha capacidade para me tornar professora da USP. Alegaram que eu tive favorecimento”, relatou a docente.

O processo de anulação, segundo a professora, foi marcado por irregularidades. Sua defesa técnica, enviada dentro do prazo, não foi considerada pelo Conselho Universitário da USP, que votou pela anulação da nomeação sem analisar seus argumentos. “Eles decidiram sem ao menos ler a minha defesa. É um sentimento de injustiça muito profundo”, afirmou.

A decisão da USP provocou ampla indignação na comunidade acadêmica e reacendeu o debate sobre racismo estrutural nas universidades públicas especialmente em concursos onde a presença de docentes negros ainda é minoria. Embora a vaga fosse na área de literaturas africanas, a docente negra que a conquistou foi a única a ser questionada judicialmente.

“Não é apenas sobre mim. É sobre como as instituições continuam rejeitando nossa presença, mesmo quando ela é conquistada por mérito”, disse Érica em entrevista recente.

Após a anulação, a universidade abriu um novo edital para a mesma vaga. Érica entrou com uma ação judicial contra a decisão e segue buscando reparação e transparência no processo.

O caso escancara uma contradição antiga: enquanto o Brasil se apresenta como referência em estudos sobre diversidade, suas maiores instituições ainda reproduzem barreiras raciais silenciosas, que seguem impedindo a plena representatividade de intelectuais negros em seus quadros.

TAGS: