14 de junho de 2025

Educação

Mãe do menino Miguel, Mirtes Renata defende TCC sobre escravidão contemporânea e tira nota máxima

Empregada doméstica e agora quase bacharela em direito, Mirtes transforma dor em luta por justiça e denuncia as violações de direitos ainda sofridas por trabalhadoras como ela

• 12/06/2025
Thumbnail
Foto: Reprodução/Instagram

A dor de perder o filho Miguel Otávio, aos 5 anos de idade, ao cair do 9º andar de um prédio de luxo no Recife, enquanto ela trabalhava como empregada doméstica, transformou-se em força para a luta de Mirtes Renata Santana de Souza por justiça e direitos. Nesta terça-feira (10), ela deu mais um passo nessa jornada: defendeu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em direito, com o tema da escravidão contemporânea, e recebeu nota máxima da banca avaliadora.

Miguel morreu em 2020, sob os cuidados de Sari Corte Real, ex-primeira-dama de Tamandaré (PE), enquanto Mirtes passeava com o cachorro da família empregadora. O caso comoveu o país e expôs as relações desiguais e ainda violentas entre patroas e trabalhadoras domésticas no Brasil.

Foto: Reprodução/Instagram

Desde então, Mirtes decidiu estudar direito para entender o sistema que, por tantas vezes, nega justiça às pessoas negras e pobres. Ingressou na graduação em 2020 e hoje atua como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

Seu TCC, apresentado nesta semana, analisa casos emblemáticos de trabalho análogo à escravidão, como os de Madalena Gordiano, mantida sob regime de servidão por 40 anos, e de Sônia Maria de Jesus, escravizada por 37 anos por um desembargador em Santa Catarina. A pesquisa também traz relatos da própria Mirtes e as violações que enfrentou enquanto trabalhadora doméstica.

“Foi muito difícil essa trajetória, vários momentos que eu pensei em desistir, mas eu não cheguei aqui só. O que me impulsionou foi o meu filho”, declarou emocionada. “Estou concluindo esse curso pelo meu filho. Minha meta é me formar em dezembro, fazer especializações, uma pós-graduação.”

Foto: Reprodução/Instagram

O trabalho não apenas pontua a persistência de relações escravistas no Brasil contemporâneo, mas também denuncia a naturalização da precariedade e da violência que ainda marcam a rotina de muitas empregadas domésticas. A conclusão do curso está prevista para o fim do ano, após o encerramento de disciplinas pendentes.

TAGS: