Saúde
Butantan recebe aval da Anvisa para vacina inédita de dose única contra dengue
Imunizante 100% nacional promete mudar o cenário das epidemias, com eficácia robusta, produção própria e expectativa de distribuição pelo SUS a partir de 2026
O Brasil acaba de alcançar um marco científico e sanitário sem precedentes. A Anvisa aprovou o registro da Butantan-DV, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan e reconhecida oficialmente como a primeira vacina de dose única contra a dengue em todo o mundo. A aprovação, divulgada nesta quarta-feira (26), coloca o país na vanguarda global da pesquisa em arboviroses e abre caminho para transformar a resposta à doença que há décadas desafia a saúde pública.
Fruto de mais de dez anos de pesquisa, o imunizante demonstrou 74,7% de eficácia geral contra casos sintomáticos, além de uma proteção expressiva contra formas graves da doença, internações e mortes. Os estudos clínicos, que envolveram mais de 16 mil voluntários no Brasil, também apontaram desempenho superior quando comparado a outras vacinas disponíveis no mercado internacional, especialmente pela facilidade logística de ser aplicada em apenas uma dose.
A vacina foi aprovada para pessoas de 12 a 59 anos, faixa etária que concentra grande parte das contaminações e internações por dengue. A ampliação para outros grupos populacionais ainda depende de novos estudos, mas o Ministério da Saúde já sinalizou que pretende incluir o imunizante no SUS a partir de 2026, com estratégia nacional de vacinação prioritária em regiões com surtos recorrentes.
Uma vitória da ciência e também da autonomia nacional
Diferente de outras vacinas que dependem de insumos importados, a Butantan-DV é inteiramente produzida no Brasil, com capacidade industrial instalada e mais de 1 milhão de doses já prontas para distribuição. O instituto também firmou parceria com a empresa farmacêutica WuXi para expandir a produção e atender à demanda crescente em um cenário global de incidência recorde da dengue.
Essa autonomia representa algo decisivo: o país deixa de depender de fornecedores internacionais para combater uma doença que tem impactos desiguais, especialmente em comunidades periféricas, onde saneamento inadequado, clima quente e menor acesso ao cuidado tornam a dengue uma ameaça constante.
A aprovação chega num momento crítico. Em 2024, o Brasil registrou o maior surto de dengue da história, ultrapassando 6,5 milhões de casos. Em 2025, a transmissão segue elevada e reforça a urgência de políticas de prevenção combinadas com vacinação em larga escala.
Com a Butantan-DV, as possibilidades mudam drasticamente: campanhas massivas ganham viabilidade, o risco de reinfecção diminui e a probabilidade de novos picos epidêmicos pode ser reduzida de forma significativa.
O que acontece agora
Nos próximos meses, o Butantan deve ampliar sua capacidade de produção e acompanhar as tratativas com o Ministério da Saúde para a inclusão da vacina no calendário nacional de imunizações. O governo federal já declarou que a prioridade será atender estados com maior incidência histórica da doença.




