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Ricardo Souza, primeiro diretor brasileiro a ganhar um VMA, fala sobre conquistas, desafios e o olhar da periferia no audiovisual
Por trás do videoclipe de 'Funk Rave', de Anitta, diretor reflete sobre trajetória, conquistas e criação da produtora Butterfly

Luz, câmera e direção própria! Com apenas cinco anos de carreira como diretor, Ricardo Souza já fez história ao conquistar, ao lado de João Wainer, o VMA (MTV Video Music Awards) de 2023 com o clipe ‘Funk Rave’, de Anitta. Foi o primeiro prêmio da categoria para diretores brasileiros. O feito, no entanto, não é encarado por ele como ponto de chegada, mas como mais um passo de uma longa caminhada coletiva.
Além dos videoclipes que marcaram sua carreira, Ricardo Souza vem se consolidando como uma das vozes mais autênticas da nova geração de diretores publicitários do país, assinando campanhas para marcas como Itaú, Pringles, L’occitane, McDonald ‘s e Vult.
Para Ricardo, o segredo está na escuta e na intenção. “Como diretor publicitário, eu costumo mergulhar fundo no universo da marca e do público para encontrar a emoção certa, o tom certo, a verdade daquela mensagem”, explica. Seu olhar se traduz em escolhas visuais marcantes, ritmo narrativo apurado e sensibilidade na direção de cena.

Em um mercado ainda marcado por repetições e fórmulas previsíveis, Ricardo aposta na autenticidade como diferencial: “É uma busca constante por algo que não apenas venda, mas que toque, que gere conexão.”
Na pós-produtora Butterfly, criada com outros parceiros da cena criativa, ele tem experimentado formatos e linguagens que desafiam os limites da publicidade tradicional. Para ele, cada campanha é mais do que um job, é um gesto emocional. “Quando vejo o resultado final, sinto realização por ver uma ideia nascer, crescer e ganhar vida. Mas também curiosidade: quero entender como ela reverbera no outro”, afirma.
Nascido e criado na periferia de São Paulo, Ricardo encontrou no audiovisual um caminho para a expressão da sua realidade e de sua sensibilidade. E, junto com ela, a de muitos outros artistas negros e periféricos. Ricardo começou no audiovisual aos 20 anos e desde então, a curiosidade o moveu. Da pós-produção à direção, ele construiu uma trajetória sólida, que se destaca pela originalidade e por uma estética diretamente ligada à sua vivência na periferia.

Além do clipe vencedor do VMA, Ricardo também dirigiu vídeos como ‘Bombeat’, Voz Ativa 2020, Dexter, Djonga e Coruja e ‘Many Faces’, com o artista alemão Cesco, entre outros. Este último foi filmado em Berlim, com locações não turísticas e estética urbana. A pós-produção foi feita na Butterfly, produtora que ele criou em 2019 com um grupo de amigos. “A gente queria fazer do nosso jeito, com a nossa linguagem. E conseguimos.”

Ricardo já tem dois novos clipes prontos para lançamento. Um com Rico Dalasam, com a leveza de um amor de carnaval. E outro com Tom Filho, sobre batalhas internas, filmado em um túnel. Seu maior desejo é simples e direto.
Com sua linguagem visual é marcada por coragem estética, profundidade emocional e compromisso com a verdade.
Na sua avaliação, mais importante do que vencer é seguir caminhando. “Cada passo importa. Cada projeto que eu faço é uma forma de mostrar que existe potência onde muita gente só vê ausência. Eu estou vivendo essa caminhada com o que a vida me oferece e tentando transformar isso em oportunidade para mim e para os meus.”O olhar de Ricardo é de futuro, mas também de raiz. É com os pés fincados na realidade da quebrada e os olhos atentos ao novo que ele segue reimaginando caminhos no audiovisual brasileiro. “A arte muda tudo. Muda como nos veem. Muda como nos vemos.”