Uma das consequências diretas do racismo estrutural é o acesso escasso as oportunidades. Sejam elas de trabalho, estudo, autoridade em assunto, etc. Nesse contexto, os tímidos esforços de inclusão até promovem a chegada de alguns dos nossos em diferentes contextos. O problema é que mesmo quando chegamos, existe um grande risco de sermos a “única” pessoa preta daquele espaço.
Em quase 6 anos de carreira profissional, raramente esbarro com mais de três pessoas pretas em um time ou projeto. Caso encontre, a recepção também não é das melhores, afinal, o clima de disputa promovido pelo racismo impede qualquer tipo de afeto. É uma eterna sensação de ser olhado com ódio pelo agente de segurança pública que também é preto como você, mas, que por algum motivo ele te odeia. Sabemos o motivo.
Por isso, é necessário ir além da “inclusão” de uma ou duas pessoas pretas. É preciso sair da “síndrome do primeiro ou primeira” (“o primeiro ministro negro”, “a primeira astronauta negra”, “a primeira turma negra de medicina”) e viabilizar mais dos nossos em abundância. Já sabemos que é possível e agora? Quem serão os próximos? Quando vamos ter os “segundos”, “terceiros”, “vigésimos” ocupando cargos políticos, lideranças nas empresas e projetos científicos?
No país mais negro fora da África, diversidade racial não pode ser uma questão individual. Claro, que honramos quem chegou “quando tudo ainda era mato”, porém, não fazer mais, é manter as aparências e perpetuar as exclusões. Sinceramente? Eu não quero o título de “única pessoa preta” de um local.