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Mulher de 79 anos vivia há cinco décadas em condição de escravidão no Rio
Idosa viveu mais de 50 anos trabalhando para a mesma família, sem salário, férias ou descanso
O Brasil de 2025 ainda carrega marcas do século XIX. Uma trabalhadora doméstica de 79 anos foi resgatada de situação análoga à escravidão no bairro de Padre Miguel, Zona Oeste do Rio de Janeiro, após mais de cinco décadas trabalhando para a mesma família sem salário, férias ou qualquer registro em carteira.
A operação foi conduzida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com apoio do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal. A idosa, que dormia em um quarto dentro da casa onde trabalhava, era responsável pelos cuidados de uma mulher centenária e chegava a ser acordada várias vezes durante a madrugada para prestar assistência.
Sem folgas, sem 13º, sem vínculo formal e com saúde fragilizada, ela viveu por mais de meio século sob condições que o Estado brasileiro define como trabalho escravo contemporâneo, quando há jornada exaustiva, servidão ou restrição da liberdade por dependência econômica ou emocional.
Após o resgate, os auditores do MTE calcularam cerca de R$ 60 mil em verbas rescisórias e indenizações trabalhistas. O Ministério Público firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com os empregadores, garantindo que a vítima receba um pagamento vitalício e seja acompanhada por uma equipe de assistência social.
Segundo os fiscais, a mulher acreditava “fazer parte da família”, mas vivia uma relação de dependência marcada por abuso, isolamento e ausência de direitos.
Mesmo após a aprovação da PEC das Domésticas, em 2013, e de avanços na legislação trabalhista, a realidade de muitas profissionais ainda é a da precarização e da invisibilidade. Segundo dados do IBGE, mais de 70% das trabalhadoras domésticas no Brasil são mulheres negras, e a maioria segue sem registro formal.
O resgate de uma mulher de 79 anos em condições degradantes não é um caso isolado. De acordo com o MTE, mais de 3 mil pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão no Brasil apenas em 2024, e entre as principais vítimas estão trabalhadoras domésticas, empregadas rurais e cuidadoras.




