• 21-11-2024

Em entrevista à Africanize, Mauricio Sacramento e Artur Santoro, diretores da Batekoo, se abrem sobre os riscos financeiros após a perda do patrocínio e a possibilidade de cancelamento

Festival Batekoo  anunciou nesta terça-feira (29) o adiamento da terceira edição do evento, após a desistência de uma marca patrocinadora. Em entrevista à  Africanize Maurício Sacramento  Artur Santoro , sócios fundadores da  Batekoo , expuseram a situação e revelaram que a ação poderia ter levado a empresa à falência.   

 

Programado para acontecer no dia 23 de novembro deste ano, a produção do festival deu início ainda em 2023, um ano antes da data do evento. Com patrocinadores confirmados desde o início, a desistência de patrocínio de uma empresa fez com que a Batekoo perdesse uma grande parte do investimento para o festival.

 

 

 

 

Mauricio Sacramento conta que o declínio da marca trouxe prejuízos para a Batekoo. “Isso desestabilizou a Batekoo de uma forma geral, financeiramente, ao ponto de que a gente poderia falir se não tivéssemos artimanhas desde o início para se auto sustentar. ”, explica o empresário.  

 

“A não realização do festival esse ano é um grande prejuízo, sendo bem prático. Adiar um festival também é um custo, e acho que pode se passar na cabeça da galera é: ‘Adiou, então ninguém vai receber’, mas muito pelo contrário. Todo mundo que a gente já pagou, está pago, e tudo o que a gente trabalhou até hoje, está trabalhado, e no final das contas é dinheiro perdido. ”, relata.  

 

Também diretor criativo na Batekoo, Maurício afirma que o impacto da desistência pode afetar todos os próximos projetos da plataforma. “ Quando a gente fala de iniciativas pretas, que já vive em um limbo das decisões de patrocínio e verba, e que trabalha com um público com baixo poder aquisitivo, essa desistência desestabiliza todo o nosso ano.  

 

 

criadores-da-batekoo
Foto: Jardiel Carvalho/FolhaPress

Com um line-up formado por mais de 20 artistas pretos e de diferentes regiões do Brasil, além da angolana  Titica , Artur Santoro, sócio e head de projetos da Batekoo, explica que a Batekoo Festival tem como objetivo levar o acesso à cultura ao público preto, que nem sempre é contemplado pelos grandes eventos musicais.  

 

“Esses festivais convencionais não estão muito focados nesse lado da diversidade, e a gente está de fato trabalhando em um público que não frequenta grandes eventos, que não estão vindo para o centro da cidade consumir cultura, e que às vezes nem consegue se ver dentro desses espaços, ou ter dinheiro para poder ir em mais de um festival no mesmo ano.”  

 

Artur destaca ainda que uma das maiores tristezas é não poder, neste momento, apresentar a cantora  Alaíde Costa  ao público jovem. “É o que mais me dói de estar adiando o festival. Ela aos seus 88 anos teve uma indicação ao Grammy e nunca se apresentou para um festival de juventude como a Batekoo. Era também um momento que a gente conseguia ali apresentar para esse público quem é Alaíde Costa.”  

 

 

BATEKOO-FESTIVAL-AFRICANIZE-1
Foto: Divulgação/Batekoo

Com a perda do patrocínio, Maurício Sacramento acredita que a marca não conseguiu ver a importância do movimento criado com a Batekoo.  “Não teve interesse. Fizeram a proposta, já tínhamos conseguido, e deu para trás depois de já ter topado. Basicamente eles não estão reconhecendo a nossa relevância cultural” , reflete.  

 

“Sempre existe uma cota dentro dessas empresas para diversidade ou para falar com pessoas pretas, e acho que essa cota diminuiu até deixar de ser uma prioridade, e hoje basicamente está deixando de desistir. E tanto a queda desse patrocínio, como a falta de interesse das marcas em patrocinar marcas e criadores pretos, festivais e tudo mais, vem muito dessa despriorização. ”, ressalta ainda.  

 

A Batekoo nasceu em 2014, e na época, o investimento foi em um valor entre 20 e 50 reais. Desde então, a festa    realizou eventos em cerca de 7 estados brasileiros e três turnês no continente europeu. Ao falar sobre os 10 anos de Batekoo, Artur Santoro lamenta a falta de reconhecimento do projeto no mercado.  

 

A gente tem que estar o tempo inteiro provando a nossa relevância cultural. A gente está há 10 anos fazendo eventos ao redor do Brasil e do mundo e mesmo assim parece que toda essa trajetória é descartada e minimizada”  

 

Em crise financeira, agora é hora recalcular a rota para evitar uma atitude mais drástica, como um cancelamento do evento . “No momento é entender como seguir, e se seguir, porque tem todo o investimento que a gente fez para fazer o festival acontecer, e os pagamentos iniciais a gente fez contando com os patrocinadores que fechamos para que essa grana volte” , pontua Artur.  

 

Contudo, Maurício Sacramento e Artur Santoro contam que a equipe possui pé no chão para a resolução da situação.  “A gente trabalha um ano por um dia, né? Estamos desmotivados e tensos sim, mas a gente tem uma equipe muito bacana e pé no chão, e é por isso que a gente decidiu adiar o festival agora. É a decisão mais coerente, certa e inteligente para não nos enfiarmos em uma situação pior que possa chegar até a falência da marca.”  

Danilo Castro

Jornalista carioca, DJ e comunicador apaixonado por música. Ama a cultura pop negra tanto quanto comer frutos do mar.