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Educafro denuncia fraudes nas cotas raciais do concurso de diplomata do MRE
Segundo a denúncia, mais de 30 candidatos que sempre se declararam brancos em concursos anteriores passaram a disputar vagas destinadas a negros em 2024

A Educafro, organização reconhecida por sua atuação em prol da inclusão racial, expôs graves irregularidades no sistema de cotas raciais do concurso de diplomata do Ministério das Relações Exteriores (MRE) de 2024. Em um cenário que revela fragilidades no processo de heteroidentificação e na aplicação das políticas afirmativas, a entidade entrou com uma Ação Civil Pública (n.º 1106774-17.2024.4.01.3400) para suspender o certame e corrigir o que chama de “distorções que beiram à tirania”.
Fraudes no sistema de cotas
Segundo a denúncia, mais de 30 candidatos que sempre se declararam brancos em concursos anteriores passaram a disputar vagas destinadas a negros em 2024. Dos 14 cotistas aprovados, apenas quatro são reconhecidos por boa parte da comunidade negra como pretos ou pardos-pretos. A Educafro afirma que o sistema atual permite que indivíduos que não enfrentam as consequências do racismo estrutural se beneficiem das políticas afirmativas.
Casos emblemáticos chamam atenção, como o de um candidato branco reprovado em bancas de heteroidentificação, que utilizou laudos dermatológicos e antropológicos para obter liminar judicial e garantir sua vaga. Outro candidato, já reprovado em diversos processos de heteroidentificação, continua a se declarar negro em concursos, sem consequências.
“Chocados com o fato de pessoas mais negras ficarem de fora, enquanto pardos-brancos ocupam suas vagas, a Educafro decidiu não aceitar essa barbaridade. […] Não aceitamos trocar o direito do preto e do pardo-preto, arrancado de nós pelo pardo-branco”, declarou Frei Davi Santos, diretor executivo da Educafro.

Obstáculos logísticos e exclusão econômica
A Educafro também criticou a logística do processo de heteroidentificação. Os candidatos negros foram convocados para comparecer a Brasília com apenas 12 horas de antecedência, o que resultou em uma taxa de abstenção de 65%. Muitos candidatos relataram não ter condições financeiras para arcar com passagens aéreas de última hora, sendo eliminados automaticamente.
“A política de cotas está sendo sequestrada por pardos-brancos, deixando pretos e pardos-pretos, os negros legítimos, fora do concurso”, alertou Frei Davi.
A organização pede a intervenção imediata do Ministério Público e do Governo Federal para evitar a homologação do concurso até que as irregularidades sejam sanadas. A Educafro alerta que a leniência do MRE ameaça a credibilidade da política de cotas e perpetua o racismo institucional.
“Este concurso não pode ser homologado até que as fraudes sejam corrigidas e os candidatos legítimos tenham seus direitos garantidos. O Itamaraty não pode se tornar um enclave de racismo institucional dentro de um governo comprometido com a inclusão”, afirmou Alabê Nunjara, candidato negro.