• 16-09-2024

Criador da Te Levo Mobile viveu altos e baixos da vida até decidir apostar em uma ideia inovadora

Viver em situação de rua não foi uma escolha, mas sair dela para se tornar CEO de um aplicativo de transporte de passageiros “ foi coisa do destino” para Sérgio Brito, de 44 anos. Idade, que por sinal, foi o tempo que levou para realizar um sonho que batalhou a vida inteira. Hoje, a empresa de transporte de passageiros “Te Levo Comigo” é uma das principais concorrentes da Uber em Minas Gerais e atende 14 municípios da região.

 

Aos 30 anos, Brito saiu de casa, em Guaíra, no interior de São Paulo, para buscar um emprego em Minas Gerais. Entretanto, ao chegar lá, se deparou com as dificuldades em conseguir um trabalho e acabou precisando morar nas ruas, o que foi o período mais difícil de sua vida. “Passar fome, sede e frio, passar vontade de usar um banheiro e não ter para onde ir é extremamente difícil. Estar invisível em um mundo de quase nove bilhões de habitantes, onde todo mundo passa por você e ninguém te enxerga, é difícil estar lúcido. E eu precisei estar.”  

 

De berço evangélico, Sérgio conta que foi resgatado pelo próprio pai, que telefonou para inúmeras igrejas da cidade com a esperança de encontrar o filho, sabendo que ele frequentaria uma delas. “De muitas ligações que ele fez, foi em uma igreja que eu frequentava meu pai descobriu onde eu estava.” , e no mesmo dia, ele pegou a estrada para reencontrar o filho em outra cidade.  

 

“E num domingo de manhã, no outro dia, eu ouço uma voz gritar ‘Sérgio!” e eu pensei: ‘Ué, que sonho bom, eu estou ouvindo a voz do meu pai’ , só que ele continuou a me chamar, e foi quando eu me deparei com aquele negão lindo maravilhoso, foi a visão mais linda que eu tive da minha vida, e nos abraçamos e choramos muito [com o reencontro]”.  

 

sergio-brito-e-pai-africanize
Foto: Arquivo Pessoal

 

Anos mais tarde, Brito encontrou uma oportunidade de ser modelo em um concurso que valia uma bolsa de estudos em Franca, município de São Paulo. Ao passar em segundo lugar, ele decidiu que “nunca mais passaria fome na vida, e que para isso não acontecer, teria que trabalhar com cozinha ”, e foi quando decidiu cursar gastronomia e passou a trabalhar em redes de hotéis e restaurantes.  

 

Mas, com a chegada da pandemia do Covid 19, os hotéis fecharam e Sérgio Brito se deparou com a falta de um emprego novamente. E foi quando decidiu alugar um carro para trabalhar como motorista de aplicativo, período onde passou por um novo estresse traumático, o último antes de decidir mudar de vida.  

 

“Estava rodando em um dia de chuva com uma cliente, que me pediu para abrir os vidros do carro. Mas como o carro começou a molhar, peguei e tive que levantar os vidros novamente, pois teria outra corrida. Foi quando a passageira exigiu, grosseiramente, para que eu mantivesse o vidro aberto, dizendo: ‘Eu não quero saber do próximo cliente, eu estou pagando essa [corrida]’. Parei o carro e recusei a continuar fazendo a corrida, mas não a cobrei pelo deslocamento até ali. Quando ela desceu do carro, ela me deu um tapa na minha cara.”  

 

sergio-te-levo-comigo
 Foto: Divulgação

Brito conta que denunciou o caso para o aplicativo de transporte onde trabalhava, mas que nunca houve um retorno deles. E foi quando decidiu criar o seu próprio aplicativo de transporte, oferecendo maiores direitos e maior segurança aos motoristas de aplicativo. “Naquele momento eu falei: ‘O motorista não tem apoio, né? E se eu criar uma empresa que presta esse apoio para motoristas, então?’”.  

 

Jornada para construir uma empresa do zero e sem investimentos  

 

O empresário conta que criou a “Te Levo Mobile”, aplicativo de transporte de passageiros, totalmente sozinho. Para isso, precisou dedicar horas da madrugada para aprender a mexer em ferramentas de design e fazer cursos de gestão de tráfego e social media.  

 

“Depois que nasceu a vontade de ter uma empresa, fui fazer várias pesquisas, ver o que eu precisava fazer para ter um aplicativo, descobri que eu tinha que ter um site próprio, que eu teria que ter umas redes sociais. Rodava de Uber até meia noite, e de meia noite às quatro, eu assistia vídeo aulas para aprender todas as ferramentas.”   

 

sergio-africanize
Foto: Divulgação
 

No primeiro mês de aplicativo, a empresa faturou o total de 24 reais, e com os repasses para motoristas, o lucro foi de dois reais. Com os primeiros meses difíceis, Sérgio Brito entendeu que precisava criar uma estratégia de marketing para tornar um aplicativo um sucesso – e a inspiração surgiu em um momento aleatório. “ Tinha comprado um carro que comprei por 100 reais, era um Fiat Uno. Eu cheguei em casa desesperado, olhando e pensando o que eu posso fazer para dar certo? E aí eu pensei, e se eu virasse meme?”  

 

“Foi quando em um momento de estresse, eu olhei para o carro e quase disse: ‘Vai tomar no…’, e foi quando eu pensei em ‘Vai tomar no Uno!’. Peguei um monte de cerveja no carro, decidi fazer um sorteio e vendi a ideia para uma empresa de serviços de entrega de comida. Foi quando nos tornamos memes na cidade, e desse dia para cá, a gente nunca mais foi o mesmo!”.  

 

 


 

Hoje a empresa movimenta cerca de R$120 mil por mês, e tem conquistado espaço no mercado ao oferecer benefícios únicos aos motoristas, como plano de saúde e áreas de alimentação e descanso, além de uma taxa fixa de 12% sobre as corridas.  

 

“Eu tenho 44 anos, minha vida deu errado por 42. Eu não tinha nada, e se eu tivesse desistido aos 41 anos, eu não saberia que estava perto da vitória. Não desistam.”   

O aplicativo Te Levo Mobile começou suas operações em Araxá, Minas Gerais. Desde então, o app tem se expandido para outras cidades. Atualmente, ele atende as seguintes localidades:

  1. Araxá, MG
  2. Belo Horizonte, MG
  3. Uberaba, MG
  4. Uberlândia, MG
  5. Patos de Minas, MG
  6. Divinópolis, MG
  7. Montes Claros, MG
  8. Governador Valadares, MG
  9. Ipatinga, MG
  10. Juiz de Fora, MG
  11. Sete Lagoas, MG
  12. Varginha, MG
  13. Pouso Alegre, MG
  14. Poços de Caldas, MG

 

Danilo Castro

Jornalista carioca, DJ e comunicador apaixonado por música. Ama a cultura pop negra tanto quanto comer frutos do mar.