Entrevistas
Conheça Oliver, a nova voz que que dá ritmo ao Afrobeat no Brasil
De Cabo Verde para o Brasil, Oliver mistura ritmos, línguas e vivências para fazer do Afrobeat um instrumento de empoderamento e conexão cultural

Por trás do ritmo contagiante do Afrobeat, que ganha cada vez mais espaço no Brasil, está a voz de Oliver, um artista multifacetado, de Cabo Verde país do continente africano, fluente em cinco idiomas e com uma história marcada pela mistura de culturas, paixão pela arte e desejo de empoderar.
“Eu cheguei no Brasil com 9 anos. Sempre gostei de dançar, desde criança. Na escola, quando perguntavam o que eu queria ser, eu dizia: dançarino.”
Era assim que Oliver respondia, ainda menino, sem saber que essa paixão pela dança o levaria por caminhos que cruzam a atuação, a música e agora, o lançamento de um novo nome na cena do Afrobeat nacional. Nascido de mãe angolana e pai congolês, Oliver traz na própria origem a fusão de culturas que hoje dão ritmo ao seu som. O interesse pela música sempre esteve ali, quase que silencioso.
“Sempre gostei de ouvir de tudo, sempre fui eclético. De uma maneira ou de outra, conforme o tempo passou, isso agregou muito pra mim.”

A virada musical
Foi através do amigo Jaxonthebeat, seu atual produtor e empresário. A partir desse encontro, a música deixou de ser apenas uma paixão e virou projeto de vida.
“Eu sempre cantei, mas não tinha um contato cem por cento com a música, e nunca pensei que dava pra gerar renda com isso. Não tinha noção de que poderia ser mesmo um artista. O Afrobeat está crescendo muito aqui no Brasil, e eu quero ser parte disso.”
Oliver se jogou de cabeça no novo desafio, apostando em algo maior: a construção de uma identidade artística que seja também uma ponte entre o Brasil e o continente africano.
Idioma
Ele fala com a propriedade de quem vive entre línguas e culturas. Poliglota, transita entre português, lingala, francês, inglês e crioulo. Tem horas que a cabeça dá um nó:
“Às vezes dá até preguiça de falar o português do Brasil, quando estou com os meus deixo o sotaque vir.”
A fluidez com que transita entre idiomas e identidades alimenta seu processo criativo, mas às vezes é um ponto desafiador na hora de fazer as composições das músicas.
“A dificuldade que eu enfrento aqui é o português. É muito difícil você trazer a vibe da música, porque a composição que a gente faz, no geral, é baseada em referências de fora não referências em português. As melodias que eu faço são todas em inglês. E aí, quando faço a tradução, dá um trabalho tremendo. É muito difícil mesmo.”

Influências e referências
Apesar de dizer que não tem tantas referências diretas na música brasileira, Oliver reconhece a força dos ritmos locais. O funk, especialmente, ocupa um lugar especial:
“Eu ouço bastante MPB mas o funk sempre fez parte da minha vida desde que eu cheguei no Brasil. É algo que sempre ouvi e tive afinidade, entre eles Mc Hariel e MC Kako.”
E se fosse para fazer um feat, uma artista brasileira que chama a sua atenção é a Liniker.
“Ela tem uma voz maravilhosa, versátil. Me identifiquei muito com o último álbum dela, tem Afrobeats, uma musicalidade única. Nunca ouvi ninguém fazendo como ela fez.”
Além do R&B do outro lado do oceano, suas raízes africanas pulsam forte. O cantor Fally Ipupa, da velha guarda do Congo, e artistas do gospel africano compõem o som de fundo de sua infância e influenciam diretamente seu estilo.
Novo trabalho
Oliver deu mais um passo importante nesta segunda-feira (09/06), com o lançamento do clipe African Woman. E a música vem com uma missão clara:
“É mais motivacional, passa o empoderamento feminino. Que a mulher quando ouvir essa música, se sinta empoderada, bonita, e brilhosa. Como eu digo nos versos: African Woman is shine, a mulher africana é brilhante.”
A canção é um manifesto visual e sonoro. O processo criativo envolve a estética e a beleza da africana e afro-brasileira.
“Quero trazer um outro olhar. Mostrar que a mulher negra é potência, beleza, força. Que está presente, que lidera. E que isso precisa ser reconhecido.”
Oliver é, antes de tudo, um corpo em movimento. Da dança ao canto, da África ao Brasil, do funk ao Afrobeat. Ele dança entre línguas, sons e sonhos e convida o Brasil a dançar com ele.