• 16-09-2024

As estudantes explicaram o processo para conquistar uma bolsa integral em universidades norte-americanas

Estudos, estratégias para vencer os obstáculos e muita garra para alcançar os sonhos. A vida de  Alícia Waucampt , de 19 anos, e  Vitória Bezerro , de 18 anos, não foram exatamente fácéis, mas elas fizeram de tudo para atingir um grande objetivo: ganhar uma bolsa de estudos para estudar na Universidade Yale, localizada nos Estados Unidos e uma das mais prestigiadas do mundo. E elas conseguiram.  

Alícia é da zona oeste do Rio de Janeiro, já Vitória veio da baixada fluminense do Estado, e cada uma possui sonhos diferentes – mas se encontraram no mesmo sonho. Para conquistar a bolsa de estudos, ambas tiveram que se dedicar integralmente para atender os pré-requisitos que a universidade norte-americana oferece.  

 

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Foto: Arquivo Pessoal

Com desejo de estudar cinema, Alícia conta que para se destacar, precisou mergulhar em um universo de estudos que vai para além das notas altas: mas as atividades extracurriculares, como história,  sociologia e curso de yorùbá: “ Eles [a universidade] querem alunos com vivências diferentes, e que podem agregar com experiências diversas na faculdade. Alguém que faça um pouco de tudo!” , explica.  

Já Vitória, que aos 14 anos foi a décima colocada no concurso da Força Aérea, fez estágios no congresso e na prefeitura e foi a integrante mais jovem do comitê do G20, conta que pretende cursar economia e ciências políticas na Yale. “ Eu nem estou acreditando que tudo isso está acontecendo, estou em tremendo estado de choque ”.  

 

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Foto: Arquivo Pessoal

As duas, que já ingressaram para o primeiro semestre na universidade, revelam que os desafios não foram fáceis no caminho. Alícia, que passou por constantes mudanças de endereço, foi bolsista em um colégio privado, onde as experiências não foram boas. Em uma delas, a jovem foi classificada como “a empregada do ano”, pelos colegas de turma.  

Eu estudava em uma escola majoritariamente branca e eu sofri muito racismo e preconceito, onde as pessoas queriam impor em mim que eu nunca seria nada e que eu não era inteligente.” , conta a estudante, que para viver o novo desafio, buscou conselhos de seu pai de santo no Candomblé, religião que frequenta. “ Eles disseram: ‘Você consegue ver o tipo de ação que você está fazendo, o tipo de coragem que você está tendo? Sabe aquela síndrome de impostora, você está se botando lá fora e provando ser uma pessoa essencialmente merecedora.”  

A trajetória de Vitória passou também por situações semelhantes, como quando, por exemplo, um professor a discriminou na frente da turma.  "Vindo de uma realidade onde eu sempre fui a aluna bolsistas em colégios, onde eu era a única pessoa negra da turma, também passei por situações de racismo. Eu lembro de uma vez que um professor perguntava onde todo mundo morava, e eu era a única da baixada fluminense [do Rio de Janeiro]. Então o professor disse: ‘Toma cuidado com ela, gente, ela pode ser metida com coisa errada.’”  

 

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Foto: Arquivo Pessoal

Embora os desafios que a vida tenha apresentado às duas ao longo da trajetória de ensino até Yale, Alícia Waucampt e Vitória Bezerro alcançaram grandes passos do que é apenas o início de uma jornada de conquistas. E para o processo de inscrição para bolsas de estudos em Yale ou em alguma universidade norte-americana, é importante colocar tudo o que já fez à prova. “ O mais importante é ter uma base de excelência acadêmica que eles esperam dos alunos. Você tem que mandar todo o seu currículo, suas notas, tudo o que você já fez. Acho importante ter confiança e paixão, acreditar em você mesmo quando você não acredita. ”, explica Alícia, que já produziu documentários sobre o Candomblé, e sobre funcionários de um colégio onde estudou, apresentando a desigualdade social existente.  

 

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Foto: Arquivo Pessoal

“O que você já fez de bom?  o que você já fez de errado? O que você já fez pela sua comunidade? ”, pontuou a estudante.  

Segundo Vitória, para ingressar em uma universidade norte-americana, é preciso revelar quem você é além das notas – pois universidades como Yale buscam os jovens do futuro, que farão diferença para a sociedade.  “Nos Estados Unidos, eles valorizam quem você é como um todo. Eles não querem ver só a sua nota em teste, eles querem ver quem você é fora do colégio. Então, eles vão olhar ali tudo que você fez desde o nono ano até o terceiro ano do ensino médio. Eu vi a minha história, vi problemas que tinham desde a minha infância e eu quis consertar eles de alguma forma com os projetos que eu criei. Sempre fui uma criança assim que gostava muito de exatas, de matemática E de física, você vê uma menina negra no colégio de ponta, bolsista, passando por todos os desafios.”  

 

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“Quis criar iniciativas que ajudassem crianças da periferia, principalmente pessoas pretas. A gente leva a aula de olimpíada científica de alto nível, de física, química e  matemática para as crianças da Periferia ”, explica Vitória, a integrante mais jovem do comitê do G20. “Você precisa desenvolver projetos para ajudar sua comunidade de alguma forma e mostrar que você não é aquela pessoa que só fica fazendo prova, mas que você busca também impactar as pessoas ao seu redor.”  

Danilo Castro

Jornalista carioca, DJ e comunicador apaixonado por música. Ama a cultura pop negra tanto quanto comer frutos do mar.