• 05-10-2024

Cantora reflete sobre a cena musical e que se sentia deixada para trás até a indicação na premiação internacional BET Hip Hop Awards 2024, que elevou sua autoestima

Ela está na linha de frente do R&B brasileiro, e ninguém a tira. Budah já abalou corações em “Poesia Acústica #12” e bagunçou a nossa mente com “Depois do Baile” e “Lingerie”, mas agora é hora de apresentar todos os seus cinquenta tons de “Púrpura”, seu álbum de estreia que será lançado nas plataformas digitais nesta quinta-feira (03), às 21 horas.  

 

Explorando diferentes gêneros musicais e reunindo um time de colaboradores de peso para o disco, a cantora indicada ao BET Hip Hop Awards 2024 bateu um papo com a Africanize , onde detalhou o processo criativo do álbum e refletiu sobre sucesso, conquistas e frustrações com a cena musical.  

 

Apaixonada por roxo, a cantora queria que o disco refletisse na aura dessa cor. Foi quando lembrou da cor púrpura, um dos pigmentos mais raros do mundo.  “Quando eu pesquisava o significado, descobri que para fazer uma grama do pigmento, precisava matar 10 caramujos, porque só ele tinha essa cor antigamente.”    

 

E é da raridade que nasce “Púrpura”, o novo álbum da cantora.  “A cor traz poder, extravagância, mas também traz calma. E tem tudo a ver com meu disco, porque ele tem duas faces: uma parada mais picante e safadinha, e outra mais leve e romântica” , explica Budah. “ As pessoas falam muito isso para mim, tipo: ‘Nossa velho, você tem uma voz muito rara, muito potente’, e é o que o álbum reflete”  

 

 

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Foto: Divulgação

Levou 1 ano e meio para Budah produzir e finalizar o disco, que contou com um  camping  de composições em Vila Velha, Espírito Santo, junto a outros artistas, como Chris MC e Bivolt. “ São artistas que eu gosto muito da escrita, e que eu acho que tem a ver com o jeito que eu escrevo também. A gente ficou naquela casa uma semana só criando música. E aí saiu ‘Púrpura’ que é a música que leva o nome do álbum, saiu várias outras músicas incríveis, a maioria delas a gente levou para o álbum ”, conta.  

 

Após finalizar o acampamento de composições, a cantora retornou para São Paulo onde continuou a gravar novas faixas no estúdio, além de firmar colaborações de peso para o disco. “ Eu estava realmente vivendo o meu álbum, sabe? Acho que tem coisas aqui que mostram quem eu sou, tem vários estilos diferentes: afrobeats, pop, trap, R&B. rap, tem paradas bem legais, do meu íntimo, acho que estou me mostrando do avesso, ‘tá’ ligado? É muito legal.    
 

O novo disco conta com o total de 8 participações musicais, que incluem nomes do rap, trap e da música pop que incluem MC Luanna, Delacruz, Azzy, Djonga e outros nomes. Budah explica que cada colaboração chega para dar um sentido completo às faixas, como no caso da faixa de afrobeats “Visão”, em parceria com Thiago Pantaleão e Duda Beat.  

“Eu fiz algumas viagens para me conectar com algumas pessoas, e ele foi uma dessas pessoas. A nossa música de afrobeats é muito foda, e a gente estava pensando em chamar a Marina Sena [para a faixa], mas ela disse: ‘Eu quero uma música eu e você, quando a gente tiver uma oportunidade de fazer uma música juntas. E aí no segundo tempo, a Duda Beat entrou nessa música, e na hora que a ouvi, eu falei assim: ’Puta que pariu, era isso que tava faltando’, ela veio completando completando a música de uma forma muito bizarra. Ela traz outra atmosfera.” , conta.    
 

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Tracklist completa do álbum. (Foto: Divulgação)

Já com MC Luanna, o público pode aguardar versos bem empoderadores.  “A letra fala de um desapego. Você está ali com uma pessoa, fica tipo, não vou esperar você tomar a sua decisão, eu também estou fazendo meu corre com outras pessoas. E não podia ser com outra pessoa, tinha que ser a Luanna esculachando um cara.”   

Além disso, o álbum traz ainda a aguardada parceria entre Budah e Djonga, divulgada há cerca de 4 anos pela cantora. “Eu sempre falei que eu ia lançar essa música no meu álbum, só que demorou 4 anos para sair, e tipo, eu não tenho a menor culpa sobre isso cara. ”, explica a cantora, que precisou refazer os próprios versos para trazer a maturidade lírica atual.  “Eu tinha 23 anos quando eu escrevi o feat com o Djonga. Agora eu tenho 27 e sou uma pessoa totalmente diferente”  

 

 

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Foto: Divulgação

Budah, que nasceu em Vila Velha, no Espírito Santo, viajava para São Paulo para passar 15 dias produzindo com 150 reais. Agora, ela acumula uma apresentação na plataforma de música alemã Colors (2022) e uma indicação no BET Hip Hop Awards 2024 na categoria “Melhor Flow Internacional”. A cantora celebra a conquista: Eu fico muito feliz, porque eu sempre quis que a minha carreira fosse sólida,  sendo reconhecida e respeitada pelo que eu faço. O R&B no Brasil não é uma coisa tão reconhecida quanto lá fora, a galera dorme bem no Brasil. Mas é uma parada que eu gosto de fazer é o que eu comecei fazendo, eu quero fazer isso para o resto da minha vida assim ”, destaca.  

 

Para a cantora, a indicação veio no momento certo,  já que ela estava passando por um período de insegurança com a carreira musical.  

 

“Eu estava me sentindo um pouco deixada de lado pela cena feminina, não pelas meninas,  mas pelo público mesmo, porque eu faço uma coisa muito distante do que as meninas fazem, que é rimar e tudo mais, e eu faço uma parada mais melódica. E aí eu estava com esse sentimento de assim tipo: ‘Poxa, de todas as meninas que estão aí em ascensão na cena, eu acho que eu estou lá no final, não estão olhando tanto para mim.  Ela reforça que as conquistas femininas na música são importantes e celebradas por ela:  “As meninas estão sendo vistas, e isso é muito foda. Eu acho muito foda que cada uma tem o seu lugar ali, isso é muito muito especial assim, eu acho que a gente tá sendo reconhecido de uma forma muito legal.”  

 

O mais legal da minha carreira, é que eu sinto que as coisas são muito orgânicas. A galera que me escuta realmente está ali. Eu tenho 7 anos de carreira e eu sou muito nova ainda, tem tanta coisa para acontecer, mas essas indicações chegam para me confirmar que eu estou no caminho certo .”, finaliza.  

Danilo Castro

Jornalista carioca, DJ e comunicador apaixonado por música. Ama a cultura pop negra tanto quanto comer frutos do mar.