Prêmio Multishow 2024: Confira a lista de vencedores negros que se destacaram na premiação
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Leia a análise completa sobre o impacto do disco a cultura em 2024 e as principais conquistas que determinam o 'Cowboy Carter' como o maior álbum do ano
O que define, afinal, a escolha de melhor disco do ano? 2024 foi um ano diverso na música, onde as barreiras territoriais ficaram menores e artistas de diferentes gêneros musicais receberam destaque e atenção do público no mundo. Do afrobeat ao funk, a pluralidade linguística e rítmica ficou à tona durante todo o ano e foi incorporada em diferentes culturas.
2024 também foi o ano de lançamento do ‘Cowboy Carter’, o oitavo disco solo de Beyoncé. O álbum vendeu 407.000 nos Estados Unidos na primeira semana, estreando em primeiro lugar na Billboard Hot 200, principal parada de álbuns do país. 'Texas Hold ‘Em', principal single do disco, ficou três semanas em primeiro lugar entre as mais ouvidas da região. Entretanto, o álbum não recebeu um grande investimento de marketing após o lançamento, ou sequer uma turnê. Mas o que faz ‘Cowboy Carter’ se tornar o grande álbum de 2024?
Em junho de 2024, a cantora revelou em entrevista ao The Hollywood Reporter que não se preocupava mais com vendas e charts , mas que estava “ muito grata e honrada com o sucesso extraordinário do novo álbum ”. As vendas, contudo, apresentavam uma queda constante nos gráficos da música. Entretanto, o sucesso de ‘Cowboy Carter’ referido por Beyoncé nunca foi sobre estar sendo reproduzido exaustivamente pela massa popular, e sim, na verdade, pela alteração no curso da música country norte-americana. O sucesso do disco é cultural.
O segundo ato da trilogia de álbuns iniciada em ‘Renaissance’ (2022) reivindica as contribuições negras no surgimento do gênero country . Originado no sul e sudeste dos Estados Unidos na década de 1920, o country surge a partir do banjo moderno, instrumento musical originalmente criado na África Ocidental, onde levava o nome “ Akonting ”. Inventado a partir de cabaças, a tecnologia foi exportada para a América por pessoas escravizadas da África e era um instrumento exclusivamente negro até 1840.
O início do século XX, marcado pela segregação racial no país, levou a indústria fonográfica a querer investir no country com uma excessão: o gênero ruralista deveria ser cantado exclusivamente por pessoas brancas para audiências brancas. Desde então, o ritmo se tornou a voz do conservadorismo e da América branca dos Estados Unidos.
Com o ‘ Cowboy Carter ’, Beyoncé relembra o país de uma informação ocultada pela indústria fonográfica por cerca de 100 anos. A cantora, que em 2016 foi menosprezada pela premiação Country Music Awards , expõe as feridas culturais do país e cria o que pode ser considerado o disco mais requintado e expositivo da carreira. Indicado 11 vezes ao Grammy Awards em novembro, foi o primeiro de uma cantora negra a alcançar o topo da parada de álbuns country dos Estados Unidos. O single ‘ Texas Hold ‘Em ’ também foi a primeira canção de uma mulher negra a alcançar o topo da parada de músicas country do país.
Foto: Beyoncé/Divulgação
A glória do disco não está somente ligada à Beyoncé. Com a estreia na Billboard Hot 200, ‘Cowboy Carter’ colocou pela primeira vez na história, simultaneamente, cinco artistas negros de country na parada de álbuns. As cantoras Adell, Spencer, Kennedy e Roberts, presentes em ‘ Blackbiird’ , e o cantor Shaboozey, que fez dobradinha em ‘ Spaghetti’ e ‘ Sweet/Honey/Buckiin’ ). Se as paradas de música não estavam acostumadas com cantores negros no country, o alcance de ‘Cowboy Carter’ provou que o sucesso do álbum não seria apenas comercial. O álbum levaria outros artistas negros do gênero à ascenderem e serem reconhecidos em uma indústria que os desprezavam.
Após participar do disco de Beyoncé, o cantor Shaboozey lançou como single a canção ‘A Bar Song (Tipsy)’, onde promoveu no BET Awards 2024. Com a faixa, o artista juntou à Beyoncé como os únicos cantores negros a alcançarem o topo das paradas de música geral e de country na história. O single também fez história e se tornou também a música com mais tempo em primeiro lugar na Billboard Hot 100 nesta década, acumulando incríveis 19 semanas no topo. Em geral, a faixa está empatada apenas com “Old Town Road’, de Lil Nas X e Billy Ray Cyrus, lançada em 2019, e que também funde country e hip-hop .
A indústria de música country não foi receptiva com os singles recordistas de Beyoncé e Shaboozey. Na edição deste ano da premiação Country Music Awards , a cantora texana foi completamente esnobada e não recebeu indicações com ‘Cowboy Carter’. Já o cantor de ‘A Bar Song (Tipsy)’ recebeu apenas duas indicações, embora tivesse em mãos o maior sucesso do ano nos Estados Unidos. Shaboozey acabou não ganhando nenhum dos dois prêmios. Embora as reações conservadoras da indústria country sejam exemplos claros de que o gênero é dominado por artistas e executivas racistas, são também exemplos do motivo pelo qual o ‘Cowboy Carter’ é o maior disco de 2024.
Foto: Reprodução/Instagram
Beyoncé expôs uma ferida centenária da música country . Um gênero formado por pessoas brancas, racistas, egocêntricas, conservadoras, mas originado a partir da arte e tecnologia de uma população na qual eles rejeitaram em toda sua história. Embora ‘Cowboy Carter’ seja um disco country , sobretudo, é um disco negro. A influência de outros gêneros como rock, blues, soul, hip-hop, house e outros ritmos, como também uma nova versão do clássico ‘ Jolene ’, de Dolly Parton, revela uma cantora cada vez mais intencional em cada escolha feita dentro do disco.
É verdade, ‘Cowboy Carter’ não é o maior disco comercial de 2024. O que, na verdade, define o grande sucesso do disco é justamente o impacto cultural que se estenderá em toda indústria musical pelas próximas décadas. Linda Martell, uma das pioneiras do gênero, foi indicada ao Grammy Awards pela primeira vez aos 83 anos pela participação na faixa ‘Spaghetti’. O cantor de country Shaboozey possui uma das maiores músicas da história da Billboard Hot 100. O legado do álbum não é somente de Beyoncé, ele é dividido entre artistas negros que vieram antes e os que virão no futuro. O sucesso do disco é cultural e coletivo, e por essa razão, ‘Cowboy Carter’ é definitivamente o melhor disco deste ano.
Jornalista carioca, DJ e comunicador apaixonado por música. Ama a cultura pop negra tanto quanto comer frutos do mar.
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