África
Yankoze Munda: o ritual ruandês que transforma canto e água em força coletiva
Prática ancestral une mulheres em celebração da vida, da espiritualidade e da memória comunitária

Em Ruanda, um ritual ancestral chamado Yankoze Munda / Wankoze Munda reafirma a força das tradições africanas que atravessam gerações. Com cantos coletivos e o uso ritual da água sobre o Orí — a cabeça, entendida como centro da espiritualidade —, mulheres evocam força, renascimento e conexão com a ancestralidade.
Em kinyarwanda, “Yankoze Munda” significa “isso me tocou por dentro”, enquanto a resposta, “Wankoze Munda”, traduz-se como “isso me atravessou, me alcançou de verdade”. A troca simbólica expressa não apenas emoção, mas também a consciência da coletividade como lugar de cura e fortalecimento.
Recentemente, um vídeo do ritual viralizou nas redes, sendo interpretado como um encontro de mulheres em apoio a uma viúva em luto. Embora não se saiba se o registro específico tinha esse objetivo, a cena revelou a dimensão comunitária da prática: consolar, lembrar que a vida continua e que a dor pode ser compartilhada e dissolvida.
Mas o Wankoze Munda vai além dos ritos fúnebres. Ele está ligado a passagens de vida, iniciações espirituais e processos de fortalecimento comunitário, funcionando como um espaço de formação cultural e ancestral. É nesse encontro que mulheres transmitem valores, ensinam práticas e reafirmam identidades, mostrando que o luto, a vida e a celebração podem coexistir em formas múltiplas de expressão.
O ritual, que resiste ao tempo, traduz uma verdade fundamental das culturas africanas: o luto e a vida não precisam ser solitários.