Cinema e TV
Viola Davis diz se arrepender de ter feito ‘Histórias Cruzadas’: “Traí a mim mesma e meu povo”
Apesar de ter alavancado sua carreira, atriz lamenta ter participado de filme que romantiza o racismo e privilegia uma perspectiva branca

Lançado em 2011 e aclamado por Hollywood, ‘Histórias Cruzadas‘ foi um dos grandes destaques do Oscar 2012, recebendo quatro indicações e garantindo a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante para Octavia Spencer. Mas, anos depois, o que era celebrado como um marco virou motivo de arrependimento para uma de suas protagonistas. Em diferentes entrevistas, Viola Davis revelou que lamenta profundamente ter feito parte do projeto.
“Uma pergunta melhor seria: eu já fiz papéis dos quais me arrependi? Sim, e Histórias Cruzadas está nessa lista”, disse ela ao New York Times em 2018. A atriz, que interpretou a empregada doméstica Aibileen Clark, explicou que, embora tenha tido uma boa experiência com o elenco e o diretor, Tate Taylor, o filme falhou em entregar aquilo que prometia: a perspectiva real das mulheres negras que criavam filhos brancos em plena década de 1960.
“Eu conheço a Aibileen, eu conheço a Minny. Elas são minha avó, são minha mãe. E sei que se você faz um filme com essa premissa, quero saber o que elas pensam. Mas nunca ouvi isso durante o filme”, afirmou.

O “salvador branco” e o apagamento da voz preta
A crítica de Davis ecoa o incômodo de muitos espectadores e analistas na época do lançamento: a narrativa gira em torno de Skeeter, uma jovem branca que decide contar as histórias das empregadas negras em sua comunidade, posicionando-se como salvadora em um enredo centrado em seu protagonismo. A estrutura do filme, como apontou Davis anos depois, foi “criada no filtro e no esgoto do racismo sistêmico” e teve como foco a audiência branca, ainda que pretendesse denunciar o racismo.
Em 2020, a atriz reforçou seu desconforto em entrevista à Vanity Fair: “Há uma parte de mim que sente que traí a mim mesma e meu povo porque estava em um filme que não estava pronto para contar toda a verdade”.

A controvérsia também chegou aos tribunais. Ablene Cooper, babá da vida real que teria inspirado a personagem de Davis, processou a autora do livro original, Kathryn Stockett, por uso não autorizado de sua imagem. Embora o processo tenha sido rejeitado, a ação destacou outro ponto: a forma como as mulheres negras foram retratadas causou desconforto desde o início.