África
O ritual dos povos Bodi: quando a beleza é medida pelo tamanho da barriga
O ritual Ka’el transforma a barriga em símbolo máximo de beleza e prestígio masculino pelo status de mais gordo da comunidade.

Na região sudoeste da Etiópia, vive o povo Bodi, que preserva uma das tradições mais singulares do continente africano. Entre eles, a beleza e o prestígio masculino não estão ligados à força física ou à riqueza, mas sim ao tamanho da barriga. Quanto maior o volume abdominal, mais atraente e respeitado é o homem dentro da comunidade.
Essa valorização cultural se materializa na cerimônia anual do Ka’el, realizada em junho. O ritual, que também funciona como um concurso, elege o homem com a barriga maior da comunidade. Seis meses antes, cada família deve escolher um homem solteiro para representar seu clã na disputa. A partir daí, começa um processo intenso de preparação.

Durante um período que pode variar de três a seis meses, os candidatos seguem uma dieta de engorda, com o consumo diário de grandes quantidades de leite e sangue fresco de vaca. A prática garante o rápido aumento de peso necessário para conquistar o título. Nesse período, as mulheres da comunidade têm papel essencial , são elas que trazem o leite todas as manhãs, cuidam dos competidores, oferecem álcool, ajudam a remover o suor e cantam para mantê-los acordados durante a rotina exaustiva.
No dia da cerimônia, o corpo dos participantes é exibido e comparado diante da tribo. O vencedor, coroado como o homem mais gordo, conquista não um prêmio material, mas algo considerado muito mais importante: a admiração e o prestígio entre seus pares. Ser lembrado como herói do Ka’el é o verdadeiro troféu.
Após a festa, a rotina volta ao normal. Com uma alimentação mais equilibrada, os homens rapidamente perdem a barriga conquistada durante os meses de preparação. Algumas semanas depois, o ciclo se reinicia com a escolha dos novos competidores, garantindo que a tradição continue viva de geração em geração.