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Longe do carnaval, o bloco loucura suburbana volta após 2 anos.
Depois de dois anos sem botar o bloco na rua, no período da pandemia de covid-19, o tradicional "Loucura Suburbana" está de volta. Ele deu início ao Carnaval do bairro Engenho de Dentro, zona norte do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (16).
O Loucura Suburbana foi criado em 2001 e faz parte de uma revolução no tratamento de saúde mental. Parte do processo que acabou com a internação prolongada dos pacientes do Instituto Municipal Nise da Silveira, que presta atendimento psiquiátrico, no Engenho de Dentro, zona norte do Rio de Janeiro.
A agremiação se reuniu, desde janeiro, para ensaios da bateria e para definir o samba deste ano. O escolhido foi "Loucura Suburbana É o Melhor Remédio", que falava não só de cura para a alma, mas "de mais respeito, saúde, democracia. Liberdade, esperançar é nosso guia". É tudo muito organizado, no bloco, há comissão para julgar a melhor canção, um barracão para fazer as fantasias. No desfile, carro de som com puxadores de samba e banheiros químicos.
Além de frequentadores da instituição, seus familiares e funcionários da rede de saúde, o bloco atrai os moradores da região, inclusive famílias com crianças e idosos. Era o caso da porta-bandeira Elisama Arnold, que desde os 17 anos mora no bairro, a cerca de 15 km do centro.
O percurso é curto, apenas três quadras. Sai do instituto e vai até uma pracinha, e a vizinhança fica nas portas, janelas e varandas cantando, dançando e aplaudindo quem passa.
Há muitos funcionários da saúde entre o público e muitas fantasias celebravam o SUS, o Sistema Único de Saúde, e davam voz ao movimento pela luta antimanicomial. Muitos adesivos sobre o tema foram distribuídos no bloco e havia fantasias que faziam alusão à luta. Anderson Nery, de 46 anos, que trabalha com arte terapia em um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) vestia um jaleco no qual se lia "+Caps -Remédio". Funcionário do Nise da Silveira, Paulo Weber, 60, contou que há mais de 12 anos toca tamborim na bateria do bloco. No encerramento do desfile, o puxador terminou com um grito de Viva o SUS e foi ovacionado.
Hoje não há mais internos no instituto. As pessoas vivem em residências terapêuticas, casas compartilhadas com poucos pacientes, acompanhados de cuidadores, e muitos deles estavam juntos no bloco. Era o caso da dona Aldina Monteiro Castilho, 64, que já foi interna no Nise da Silveira e agora mora em uma dessas residências em Água Santa, bairro próximo dali. Ela estava de braços dados com a técnica de enfermagem Cristiane Argento. As duas acompanhavam o bloco com coroas de flores na cabeça e sorrisos no rosto.
O bloco é muito tradicional e já ganhou diversas distinções, como a medalha Tiradentes, honraria mais alta da Assembleia Legislativa do Rio, e a Ordem do Mérito Cultural Carioca, da prefeitura. Desde 2010, se tornou o primeiro Ponto de Cultura em saúde mental da cidade, quando passou a oferecer atividades permanentes, com objetivo de resgatar a memória do Samba e do Carnaval, "incorporando a cultura aos dispositivos de saúde mental e a população ao criativo e inovador mundo da loucura".
O Instituto Municipal Nise da Silveira foi inaugurado em 1911, como Colônia de Alienados do Engenho de Dentro. Foi nele, na década de 1940, que a psiquiatra Nise da Silveira passou a defender métodos humanizados de terapia, revolucionando o tratamento de pacientes psiquiátricos.
A partir dos anos 2000, o instituto foi municipalizado e rebatizado em sua homenagem. Por possuir a maioria dos registros do Hospício D. Pedro II, o primeiro do Brasil e da América Latina, era considerado o mais antigo no país.
Redação do Africanize
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