• 23-11-2024

Saída da Beija-Flor de Nilópolis acontecerá em ano que o sambista completará 50 anos na escola de samba

Neguinho da Beija-Flor, voz emblemática da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, anunciou que o desfile de 2025 marcará sua despedida como intérprete oficial da agremiação. Aos 75 anos, o sambista encerrará uma trajetória de 50 anos na azul e branca da Baixada Fluminense, na qual comandou a vitória em 14 campeonatos do Grupo Especial.

“O tempo é inimigo da perfeição. Eu já cheguei aos 75 anos, são 50 anos de convivência na escola que é minha família. Esse momento é difícil”, afirmou Neguinho, emocionado, durante o anúncio. Ele destacou que o carnaval do próximo ano será uma homenagem ao mestre Laíla, outra figura icônica da Beija-Flor.

Apesar da aposentadoria da Marquês de Sapucaí, Neguinho garantiu que continuará nos palcos como cantor. Ele também compartilhou uma carta de despedida, na qual expressou sua gratidão e relembrou momentos marcantes da carreira.

 

 

Neguinho chegou à escola em 1975, quando ainda era conhecido como Neguinho da Vala, e venceu seu primeiro concurso de samba-enredo com “Sonhar com rei dá leão”. Desde então, tornou-se uma figura central da Beija-Flor e do carnaval carioca, eternizando desfiles históricos e transformando a escola em uma das protagonistas da maior festa popular do Brasil.

Confira a carta de despedida na íntegra:

À minha amada Beija-Flor O desfile de 2025 marcará minha despedida como intérprete de seus hinos na Passarela do Samba. No próximo Carnaval, escreverei, com a comunidade nilopolitana, o ponto final da trajetória cinquentenária, tempo de muita felicidade e alegria. Vamos atravessar a Passarela do Samba pela derradeira vez, eu com a minha voz e o orgulho de sempre, sustentando a força e a magia de nossa comunidade que brilha no altar dos bambas. 

Será mais um momento de nosso amor eterno. Lembro emocionado, querida escola, do início dessa história, quando cheguei jovenzinho para participar da disputa de samba, no inesquecível “Sonhar com rei dá leão”. Joãosinho Trinta, também recém-chegado, criara o enredo sobre o jogo do bicho e eu, então Neguinho da Vala, sonhava entrar para a ala de compositores. O saudoso carnavalesco permitiu que eu tentasse - e deu certo. 

Com o samba composto por mim, fomos campeões. "Depois do carnaval de 2025, que é uma homenagem ao mestre Laíla, eu encerro a minha carreira na avenida da Marquês de Sapucaí. A gente morre duas vezes, quando morre de verdade e quando para", afirma ele. De lá para cá, você ganhou 14 carnavais, e me concedeu o privilégio de estar presente em todos. 

Fomos tricampeões duas vezes, levamos o Cristo mendigo coberto pela censura, na imagem mais conhecida do Carnaval. E o mais importante: inserimos a Beija-Flor de Nilópolis na história da maior festa popular do Brasil. Em lugar de protagonista. Consolidou-se a Maravilhosa e Soberana, como está no nosso hino-exaltação, “Deusa da Passarela”, que tive a honra de compor. E virou seu merecido apelido no planeta Carnaval. Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do Carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória. 

Por isso e muito mais, jamais cogitei receber salário da Beija-Flor. Nunca assinei contrato nem me submeti a qualquer burocracia. Nossa relação é única e dispensa protocolos. Costumo repetir que se alguém deve algo, sou eu a você, minha escola. Tenho muito orgulho de carregá-la em meu nome oficial, o da carteira de identidade: Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes. Guardo como um tesouro a primeira carteira de integrante da ala de compositores. 

Está lá a data, 11 de junho de 1975, do começo de tudo. Dos companheiros originais, ainda estão aqui o patrono Anísio Abrahão David e a querida Pinah. Começamos juntos a aventura de conduzir uma pequenina escola da Baixada Fluminense ao panteão das gigantes de nossa cultura popular. E chegamos lá, com a participação de muitos outros sambistas que vieram depois e seguirão rumo ao futuro. 

Chegou a minha hora. Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla – a quem conheci ainda antes do primeiro Carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta –, como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade. Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar comigo por toda a eternidade. 

Obrigado por tudo, minha escola, minha vida, meu amor. Olha a Beija-Flor aí, gente! 

 

Redação Africanize

Redação do Africanize