29 de outubro de 2025

Música

Maurício Pazz transforma fé, movimento e ancestralidade em música no álbum de estreia Afã e Fé

Contemplado pelo Edital Petra Zuca, o projeto celebra a força das musicalidades afro-diaspóricas e o fazer artístico como ato de devoção e liberdade

• 28/10/2025
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Divulgação

Há álbuns que nascem da urgência de existir, e Afã e Fé, o primeiro trabalho autoral de Maurício Pazz, é exatamente isso. Lançado no dia 16 de outubro, às 21h, o disco é um manifesto de reinvenção que une espiritualidade, ancestralidade e o desejo de seguir criando. Contemplado pelo Edital Petra Zuca, o projeto se afirma como um aquilombamento sonoro que atravessa geografias, afetos e memórias, construindo um território de plenitude e de fé.

Em Afã e Fé, o “afã” é o impulso que move, o fazer com presença e entrega. Já a “fé” é o que sustenta esse movimento, não como doutrina, mas como força sensível que atravessa o corpo e o tempo. “A fé, pra mim, é aquilo que se sente mesmo quando não se vê. É o que mantém a gente em movimento”, define o artista.

Inspirado por um período de transformações pessoais, Maurício transforma o álbum em uma ponte entre o visível e o invisível, entre o físico e o espiritual.

“O disco é sobre se permitir existir com leveza e plenitude. É sobre as forças que nos moldam e as memórias que nos sustentam”, reflete.

Com sonoridades que percorrem o Brasil e o Atlântico negro, Afã e Fé traz influências que vão de Cuba, Cabo Verde, Mali e Angola à Jamaica e ao Congo, unindo ritmos, cânticos e linguagens da diáspora africana. Faixas como “Negro Movimento” e “Sobrevoar” celebram a imaginação como ato político e a força dos movimentos negros, enquanto “Quilombaque” e “Espiral da Memória” homenageiam mestres, artistas e ancestrais que pavimentam o caminho da música preta brasileira.

Em “Para Bonga e Bogum” e “Primeiro de Janeiro”, as religiosidades de matriz africana aparecem como fonte de resistência e beleza, traduzidas em arranjos que dialogam com o candomblé e com o sagrado cotidiano.

Entre as participações do disco, destaca-se o trompetista Walmir Gil, referência essencial para Maurício, presente em seis faixas do álbum. “Ver o Gil nas ruas do Bixiga sempre foi pra mim um lembrete de dignidade e elegância. Ele é uma referência de humanidade e de música”, conta.

A força de Afã e Fé também está no coletivo. O disco conta com músicos como Rudson Daniel, Cauê Silva, Vanessa Ferreira, Fábio Leandro, Allan Abbadia e Alysson Bruno, que representam diferentes gerações da música negra brasileira. “Cada um traz uma parte dessa história. É um disco feito em rede, e isso é o que o torna tão potente”, diz Pazz.

A estreia do álbum foi precedida por uma audição especial na Casa da Música Brasileira – Petra Zuca, em São Paulo, que reuniu artistas, jornalistas e convidados, entre eles Marina Sena. O encontro, marcado por escuta e troca, refletiu o espírito comunitário que move o projeto.

“Esse edital é maravilhoso porque convida a gente a trabalhar em rede, a construir junto com as diferenças. Ele possibilita encontros que talvez nunca acontecessem de outro jeito”, afirmou Maurício, sobre a experiência no Edital Petra Zuca, idealizado por Marina Sena e Talita Morais.

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