3 de novembro de 2025

Educação

Linha de Cor: projeto de arte e educação expõe leis que ajudaram a estruturar o racismo no Brasil

Idealizado por Mariana Luiza, o projeto investiga como leis brasileiras ajudaram a estruturar o racismo e propõe caminhos para uma educação antirracista

• 13/10/2025
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Reprodução: @_linhadecor | Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)

O Brasil carrega em sua história um conjunto de leis que, ao longo dos séculos, ajudaram a sustentar o racismo como estrutura de poder. Mas o que aconteceria se essas normas fossem revisitadas pela arte, pela educação e pela memória coletiva? Essa é a proposta do Linha de Cor, projeto transmídia idealizado pela cineasta e artista visual Mariana Luiza, que investiga como o aparato jurídico brasileiro foi determinante na construção e manutenção do racismo e como a população negra resistiu a ele.

O projeto nasceu após seis anos de pesquisa sobre legislações racistas entre 1823 e 1988, resultando em um acervo inédito com mais de 120 verbetes jurídicos e históricos. Esses registros foram transformados em um repositório digital gratuito, que pode ser acessado por educadores, pesquisadores e qualquer pessoa interessada em compreender como o racismo foi, e ainda é, sustentado por estruturas legais.

“O Linha de Cor nasce da urgência em explicitar como as normas jurídicas foram fundamentais para estruturar o racismo no país. Fala-se muito em racismo estrutural, mas pouco sobre os engenheiros que, nos séculos XIX e XX, projetaram os alicerces desse racismo”, explica Mariana.

A iniciativa se desdobra em diferentes linguagens entre elas, a videoinstalação Redenção, o filme “A Cor da Margem” (em produção) e a mostra “Constituinte do Brasil Possível”, apresentada em 2024 no Centro Cultural Correios RJ e em 2025 no Conselho Nacional de Justiça, em Brasília. Só nesta última edição, a exposição recebeu mais de 31 mil visitantes e envolveu 32 instituições educativas, com rodas de conversa, mediações e oficinas voltadas à educação antirracista.

O site oficial do Linha de Cor (linhadecor.com) reúne o acervo completo, incluindo planos de aula gratuitos para apoiar a aplicação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas.

“Nosso interesse é também disputar os imaginários silenciados, para que possamos reconstituir memórias, reconhecer resistências e projetar caminhos de bem viver”, resume Mariana, que coordena o projeto ao lado de uma equipe majoritariamente negra, com mais de 90 pesquisadores, historiadores e juristas, entre eles Ana Flávia Magalhães Pinto (UnB) e Thula Pires (PUC-Rio).

O Linha de Cor é uma ação estética e política que transforma o conhecimento histórico em ferramenta de libertação. Um convite à reflexão sobre o papel das leis, da arte e da educação na construção de um país verdadeiramente antirracista.

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