Música
Em entrevista ao podcast Match O Papo, Ebony afirma: “A estrutura do rap foi pensada para o homem.”
A rapper aborda como a desigualdade estrutural afeta mulheres e pessoas LGBTQIA+ na cena do hip-hop

A rapper e cantora Ebony, uma das vozes mais potentes da nova geração da música brasileira, é a terceira convidada da nova temporada do podcast Match O Papo, do Tinder, apresentado por Valentina Bandeira. No episódio, que foi ao ar nesta terça-feira (21/10), a artista fala sobre sua trajetória no rap, as descobertas da juventude, a bissexualidade e o processo de amadurecimento pessoal e profissional.
Entre risadas, Ebony relembra histórias curiosas de encontros que viveu pelo aplicativo e comenta, com bom humor, como lida com o flerte fora das telas. O papo, leve e espontâneo, abre espaço para reflexões mais profundas sobre carreira e gênero especialmente no universo do rap.
A cantora explica que sua relação com o gênero começou através do rock, ouvindo bandas como Charlie Brown Jr., e que foi só mais tarde que percebeu como a estrutura do rap ainda é pensada de forma desigual. Ela reflete sobre o quanto o cenário ainda privilegia homens, desde a estética até a logística por trás dos shows, e como essa percepção a levou a buscar referências no pop para construir uma base mais sólida e acolhedora para sua arte.
“Comecei a interagir com o rap a partir do rock. Teve uma época em que eu só ouvia Charlie Brown.”
Hoje, com maturidade e olhar crítico, ela reconhece que o gênero ainda carrega estruturas excludentes.
“A estrutura do rap que a gente tem hoje em dia foi muito pensada para o homem. Não sei se eles estão passando maquiagem horas antes do show… eles não esquentam nem a voz. Quando vi que a estrutura era essa, entendi que eu precisava de uma que já existe no pop.”
Com uma carreira que já a levou aos palcos do The Town, Afropunk e Rock The Mountain, Ebony consolidou-se como uma das artistas mais autênticas e versáteis da nova geração. Sua estética ousada, letras afiadas e presença de palco poderosa a colocam entre os principais nomes do rap contemporâneo uma mulher que não teme repensar as próprias regras.
Durante o episódio, ela também falou sobre autoconhecimento, liberdade e as relações de gênero no meio musical.
“Minha relação com rappers sempre foi sobre a possibilidade deles terem uma relação comigo. Não estou disposta a ser ‘mina’ de ninguém”, afirmou. “Não odeio homens, pelo contrário. Acho que a construção deles na sociedade os corrompeu.”
Durante a conversa, Ebony também fala sobre relacionamentos e amadurecimento afetivo. Ao se reconhecer enquanto mulher e artista, ela revela ter aprendido a estabelecer limites e a se relacionar de forma mais consciente, priorizando quem enxerga além da imagem e da projeção pública.
A participação de Ebony no podcast é um retrato de uma artista que cresce sem medo de se revisitar. Entre o rap e o pop, entre o palco e a vida real, ela segue questionando estruturas e abrindo caminhos para uma nova geração de mulheres que querem existir com liberdade — dentro e fora da música.
O episódio completo de Match O Papo com Ebony está disponível no YouTube e no Spotify do Tinder.
Segundo Ebony, o processo de amadurecimento também transformou a forma como ela se vê e se relaciona.
“Entendi que essa persona [hiperssexualizada] podia cair, e minha forma de interagir com os homens mudou completamente. Hoje, minha personalidade é o melhor filtro que eu poderia ter.”
Entre confidências e provocações, Ebony reforça o que a tornou um dos nomes mais interessantes da música brasileira atual: a coragem de se revisitar.