Cultura
Editora Kotter cancela prêmio literário após detectar uso de Inteligência Artificial em obras inscritas
Mais de 100 textos apresentaram sinais de IA, segundo a organização do concurso, que agora estuda novos critérios para 2026
A Editora Kotter, de Curitiba, anunciou o cancelamento da edição de 2025 do Prêmio Kotter após identificar o uso de ferramentas de Inteligência Artificial em diversas obras inscritas. A decisão foi comunicada nas redes sociais da editora na última sexta-feira (4) e rapidamente gerou repercussão entre autores e participantes.
“Pelo nosso compromisso com a idoneidade literária, diante da identificação de inúmeras obras recebidas terem sido geradas por IA e na impossibilidade de identificar com a certeza necessária esse uso, vimo-nos forçados a cancelar o concurso deste ano”, declarou a editora. O anúncio ainda destaca que a equipe está “estudando como realizar o concurso, ano que vem, em tempos de IA”.
Criado em 2024, o prêmio tem como foco reconhecer livros autorais inéditos nas áreas de literatura, filosofia e política. Nesta edição, foram cerca de 900 obras inscritas ,das quais, aproximadamente 40 apresentaram evidências claras de geração por IA e cerca de outras 60 levantaram suspeitas.
Segundo Salvio Kotter, fundador da editora, o desafio está justamente em distinguir com precisão o que foi gerado por humanos e o que foi produzido, editado ou finalizado por máquinas.
“São muitos os indícios, que, quando se somam, aumentam a certeza”, explica. Entre os principais sinais, Kotter cita textos com alto grau de correção formal e ortográfica, mas baixo valor literário, o uso recorrente de palavras e construções comuns em inglês, mas incomuns no português, e uma “regularidade plástica” nas passagens do texto.
“Outro ponto é que o texto não cresce nem cai, se mantém em um brilho plástico… Quando um texto apresenta vários desses sinais, fica muito difícil acreditar que tenha sido produto humano”, completa o editor.
