Cultura
Camila Pitanga fala sobre pertencimento e estreia ao lado do pai em 'Malês'
Atriz falou sobre ancestralidade e a experiência inédita de contracenar com Antônio Pitanga no filme "Malês", que estreia em 2 de outubro

Em entrevista exclusiva à Africanize, nos bastidores do podcast original do Spotify, Mano a Mano, apresentado por Mano Brown e Semayat Oliveira, a atriz Camila Pitanga falou sobre pertencimento, ancestralidade e o impacto de sua trajetória pessoal e artística.
Filha de Antônio Pitanga, de Vera Manhães e enteada de Benedita da Silva, Camila destacou como foi crescer cercada de arte, política e consciência racial.
“É uma dádiva ser filha de Antônio Pitanga, de Vera Manhães, ser filha enteada de Benedita da Silva. É mais do que poder, é ter sido esculpida por uma sabedoria e um amor pela negritude que eu evoco para minha filha e que eu quero para o nosso país. É a minha fome de vida, de não me apaziguar com a minha realidade, meu umbigo, meu conforto, meu privilégio. São saberes e ancestralidade que me atravessam desde minha avó Maria da Natividade até meu bisavô Antônio Pereira Manhães. É toda uma história de luta, vitória e conquistas que eu desejo que seja um Brasil possível para todos.”
A atriz agora se prepara para a estreia ao lado do pai em ‘Malês’, novo filme dirigido por Antônio Pitanga, que chega aos cinemas no dia 2 de outubro. Sobre a experiência de dividir cena com o pai, ela destacou:
“Eu nunca tinha sido dirigida pelo meu pai. Essa foi uma descoberta: ver o ator sensível que empresta ao diretor sua sabedoria, cuidado e energia. Meu pai lidera pela paixão e pelo sentido político, pela espinha dorsal que o move de entender que corpos negros precisam contar sua história. O que nos guiou nesse trabalho foi o amor, esse aquilombamento que reuniu Samira e um grande elenco, além de toda a equipe técnica. Estar junto dele nesse filme é uma beleza que fala para além das palavras.”
Com roteiro assinado por Manuela Dias, o longa conta com Rocco e Camila Pitanga, Bukassa Kabengele, Samira Carvalho e Rodrigo de Odé no elenco. Na trama, Antônio Pitanga interpreta Pacífico Licutan, um dos líderes da revolta que incentivava a união entre diferentes etnias e religiões como caminho para o fim da escravidão.
Durante a conversa no Mano a Mano, Camila também lembrou que nunca teve dúvidas sobre sua identidade racial ou sobre o lugar de ser uma mulher negra. Questionada pela Africanize sobre como reagia a situações em que tentaram negar essa identidade, ela recordou um episódio marcante da adolescência:
“Uma das primeiras capas da minha vida foi na revista Raça Brasil, eu tinha 15 anos. Ali eu disse: ‘Eu tenho orgulho de ser negra’. Ninguém me disse que eu tinha que falar isso, não foi um discurso. Eu estava falando da minha identidade, do meu pertencimento, de onde eu me reconheço. Esse é o meu ouro: minha identidade, meu nascedouro. Ser neta de Maria da Natividade, filha de Antônio Pitanga e Vera Manhães, enteada de Benedita da Silva. Isso não é discurso, é o que me move.”

Com estreia marcada para 2 de outubro, ‘Malês’ se apresenta como uma obra histórica e política, que une gerações dentro e fora da tela para resgatar uma memória coletiva de luta, resistência e futuro.
Organizada por africanos muçulmanos conhecidos como malês, a revolta de 1835 mobilizou a população negra de Salvador e se tornou o maior levante de escravizados da história do Brasil. Após seu fracasso, o movimento resultou no aumento da repressão contra pessoas negras escravizadas, mas também deixou como legado um símbolo duradouro de resistência coletiva.