África
Alemanha volta a ser pressionada a devolver o busto de Nefertiti ao Egito
Escultura de 3.300 anos, descoberta por arqueólogos alemães em 1912, segue no centro de uma disputa que envolve colonialismo, identidade e justiça histórica
O busto de Nefertiti, uma das obras mais famosas do Antigo Egito e um dos símbolos mais reconhecidos da história da arte, voltou ao centro de um debate global. O governo alemão e o Neues Museum, em Berlim, enfrentam crescente pressão internacional para devolver a peça ao Egito, que há anos reivindica sua repatriação.
A escultura, datada de cerca de 1345 a.C., foi descoberta em 1912 pela missão arqueológica alemã liderada por Ludwig Borchardt, na antiga cidade de Tell el-Amarna. Desde então, tornou-se o grande destaque do museu berlinense, atraindo milhões de visitantes. Para o Egito, no entanto, o busto nunca deveria ter deixado suas fronteiras.
A crítica egípcia ganha força especialmente pela forma como a peça foi retirada. Registros históricos indicam que, durante a divisão dos achados arqueológicos em 1913, Borchardt teria descrito o busto como “feito de gesso”, minimizando seu valor para evitar que as autoridades egípcias contestassem seu envio à Alemanha. A acusação alimenta, há mais de um século, a sensação de que o artefato foi levado sob condições enganosas.
Do lado egípcio, figuras influentes como o arqueólogo e ex-ministro das Antiguidades Zahi Hawass voltaram a defender publicamente que a peça seja retornada ao seu “lar legítimo”. Para eles, a devolução de Nefertiti seria um gesto de reparação histórica e um passo importante na luta global contra a herança colonial que ainda marca museus europeus.
A Alemanha, por sua vez, mantém a posição de que a transferência ocorreu dentro das regras da época e que a peça está legalmente em seu acervo. Museus berlinenses também argumentam que o busto é extremamente frágil e que qualquer deslocamento poderia colocar sua integridade em risco, embora especialistas e conservadores contestem essa justificativa.
A disputa se insere num contexto global em que países de origem têm exigido, com cada vez mais força, a devolução de obras levadas para o Ocidente durante períodos coloniais ou sob condições desiguais. Casos como os bronzes de Benim, na Nigéria, e esculturas gregas do Partenon ampliam o debate sobre posse, memória e responsabilidade cultural.




