Política
“Nosso passado não nos condena. Ele nos funda”: Anielle Franco defende reparações históricas na ONU
Ministra da Igualdade Racial destaca conquistas brasileiras e cobra justiça global por crimes da escravidão e do colonialismo

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou nesta segunda-feira (15), na abertura do Fórum Permanente sobre Afrodescendentes da ONU, em Nova York, que a reparação histórica por crimes cometidos durante a escravidão e o colonialismo é uma pauta inegociável. “A reparação não é um favor. É um passo civilizatório”, disse ela, diante de autoridades de diferentes países.
Representando o Brasil pela terceira vez no evento, Anielle iniciou sua fala com uma frase da historiadora Beatriz Nascimento: “Nosso passado não nos condena. Ele nos funda.” A ministra reforçou que os crimes da escravidão devem ser enfrentados com coragem e reconhecidos como violações profundas dos direitos humanos.
Ela apresentou as ações que o governo brasileiro tem implementado, como a ampliação da política de cotas, o aumento da presença de pessoas negras na administração pública federal, os avanços na titulação de territórios quilombolas e o investimento em museus da diáspora africana e sítios de memória da resistência negra. “Transformar a reparação em política pública é prioridade. Estamos avançando com ações concretas e estruturantes”, afirmou.
Anielle também chamou atenção para os impactos da desigualdade racial nas questões climáticas e sociais, defendendo a inclusão da pauta antirracista nas grandes agendas globais. Segundo ela, comunidades negras, quilombolas e periféricas são as que mais sofrem com os efeitos da degradação ambiental. Na COP 30, que será realizada em Belém (PA) em 2025, o Brasil vai apresentar soluções de preservação lideradas por esses grupos.
A ministra destacou ainda o papel do Brasil na criação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 18, voltado à igualdade étnico-racial, e reforçou o compromisso do país com a luta contra o racismo nos esportes, em alinhamento com a resolução da ONU aprovada em 2023.
O discurso de Anielle foi reforçado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que também defendeu a construção de estruturas de justiça reparatória com base no direito internacional e na participação das comunidades afetadas.
Em 2025, a União Africana reconhece o “Ano da Justiça para Africanos e Povos de Ascendência Africana por meio de Reparações”. A proposta busca pressionar por ações globais concretas diante de séculos de exploração, opressão e silenciamento.