• 23-11-2024

Marcos Luca Valentim , um nome que tem conquistado espaço no cenário do jornalismo esportivo brasileiro,  acaba de ser efetivado como comentarista do Combate , canal especializado em lutas.  

"Eu acabei de voltar de férias e recebi o convite para me tornar parte do elenco e ser comentarista do Combate . Estou  oficialmente    como comentarista da Globo , podendo participar de outros programas além dos esportivos e continuar com as atividades que já fazia."  

Sua jornada até esse momento foi marcada por uma série de desafios e determinação, revelando um profissional dedicado e comprometido com sua paixão pela comunicação.  

Naturalmente inclinado ao jornalismo, Marcos começou sua carreira como estagiário, mesmo sem ter uma tradição familiar no campo da comunicação. Em sua busca por experiência e aprendizado, passou por diferentes estágios, desde portais de voluntariado,  AfroReggae , até chegar na revista Tatame, especializada e em lutas, onde teve a oportunidade de cobrir eventos de MMA, jiu-jitsu, UFC e outros.  

Sua competência e dedicação não passaram despercebidas, chamando a atenção da Globo, onde recebeu seu primeiro convite para atuar como editor no programa que passava aos sábados. Mesmo enfrentando incertezas e a temporariedade do cargo, Marcos decidiu arriscar, vislumbrando a oportunidade de realizar um sonho antigo: trabalhar na maior emissora do país.  

Após um período como colaborador temporário, Marcos foi chamado novamente pela Globo, desta vez para uma vaga efetiva em 2016 para colaborar no Combate na época das Olimpíadas. Desde então, sua carreira decolou, tornando-se um dos nomes de destaque no jornalismo esportivo da emissora.   

Embora nunca tenha sido uma pretensão estar à frente das telas por meio de um convite para participar de um programa e falar sobre o dia Consciência Negra, surge o questionamento sobre a possibilidade de ocupar o espaço diante das câmeras. No início resistiu, pois, tinha dúvida diante da ausência de representatividade semelhante e da própria capacidade pessoal. A autoavaliação modesta conduz à crença na própria competência e na capacidade de expressar opiniões relevantes. Contudo, a dificuldade em se identificar vinha da escassez de semelhantes a ele: um homem negro, com dread nos cabelos e barba. Um contexto, que quebra todo o código de imagem estabelecido pela mídia até hoje.  

A notícia oficial de  ser o mais novo comentarista do Combate foi marcada por momentos de celebração, e comemorado não apenas por ele, mas por sua família e amigos.  

“Eu sou muito pouco reticente. Nós, como população negra, nos cobramos muito e nos sentimos muito cobrados; uma crítica que recebemos nos acompanha por anos, enquanto um elogio rapidamente desaparece. Precisamos celebrar mais e entender que as vitórias são vitórias e devemos comemorá-las, embora saibamos que não seja o fim de tudo, mas sim vitórias. Receber essa oportunidade, fruto do trabalho que desenvolvi, é uma vitória que foi muito comemorada. Liguei para minha mãe na hora e foi uma choradeira; quando cheguei em casa com minha esposa, foi outra choradeira. São vitórias que não são apenas minhas; parece clichê, mas é a verdade. Não posso pensar que cheguei aqui sozinho; há pessoas comigo nessa trajetória. Tem uma música do Emicida que diz: 'O triunfo, se não é coletivo, é do sistema'.”  

Além de sua atuação como comentarista, Marcos é também Líder do grupo étnico-racial da Globo e um dos fundadores do  Ubuntu Esporte Clube , o primeiro projeto audiovisual da Globo formado exclusivamente por jornalistas negros, que busca trazer diversidade e representatividade para o universo esportivo. Por meio desse projeto, Marcos e sua equipe têm promovido discussões importantes sobre questões raciais e sociais, trazendo à tona vozes e perspectivas que muitas vezes são negligenciadas pela mídia tradicional. Um projeto que tomou vida e hoje além de podcast tem programa na televisão, blog e já chegou até ser tema de TCC na faculdade. No programa além dos atletas já passaram nomes como: os atuais ministros Silvio Almeida, Anielle Franco e a filósofa Djamila Ribeiro entrevistas essas que quebram barreiras para além de falar do esporte.   

Com sua estreia como  comentarista do canal Combate marcada para a  manhã desta sexta-feira (15),   Marcos demonstra uma mistura de ansiedade e determinação, refletindo seu compromisso constante com a excelência e o aperfeiçoamento profissional. Seu objetivo vai além de apenas narrar eventos esportivos; ele busca promover uma reflexão mais profunda sobre o papel político do esporte na sociedade e sua capacidade de influenciar mudanças sociais.   

"Agora, efetivado nessa posição, quero que as pessoas entendam que o esporte não é apenas uma transformação política, por exemplo, tirar uma pessoa da droga e colocá-la no esporte. Claro, isso acontece; o esporte salva vidas e alcança a todos: gordo, magro, deficiente, branco, rico ou pobre.  

 Quando o atleta diz algo, esse discurso vai chegar. Porque a pessoa que consome esporte vai ouvi-la. Um exemplo é Vinicius Junior, quando ele para em campo, faz um gol e o gesto de um punho cerrado, você sabe o que ele está dizendo ali. Essa imagem circula o mundo inteiro como nenhuma outra é capaz de circular. Porque o esporte é amplamente difundido.   

A política não é apenas uma ideologia; é entender essa pluralidade do Brasil e trazer essas discussões sociais para dentro do esporte. O esporte é, por essência, negro; os maiores nomes são de pessoas negras em qualquer modalidade, mesmo os mais elitistas, como no automobilismo, por exemplo, Lewis Hamilton, ou no tênis, com Venus e Serena Williams, ou na ginástica, com Simone Biles, até o mais difundido o futebol, que é Pelé; então, não há para onde correr, são pessoas negras. Mas por que se fala pouco disso, fala-se pouco de causas sociais, parece que querendo separar as coisas.   

As pessoas não deixam de ser quem são quando estão no esporte. Eu gostaria de trazer um pouco dessas discussões quando a gente fosse apresentar, poder aprofundar um pouco como já faço. Para que quem não tem acesso a um livro ou uma série, mas que consome o esporte, possa se educar e ter um pouco mais de consciência também, meu trabalho vai um pouco nesse sentido."  

Neste novo capítulo de sua carreira,  Marcos Luca Valentim se prepara para enfrentar novos desafios e continuar deixando sua marca no jornalismo esportivo brasileiro, mantendo-se fiel ao seu compromisso com a verdade, a diversidade e a inclusão.  

"Eu acho que o desafio que vou enfrentar é fazer com que as pessoas vejam minha imagem e não pensem que não pertenço a este lugar devido ao estereótipo associado a quem sou, às roupas que visto, à minha pele, às minhas ideologias, às minhas crenças. Quero que as pessoas entendam que há um intelecto aqui. Vou entregar o que o programa exigir de mim. Eu sei falar sobre as coisas e também sou do universo da luta; não sou especialista em racismo, sou especialista em esporte. Como disse Silvio Almeida: quem é especialista em racismo é quem o pratica. Sou jornalista esportivo e estou me preparado para entregar o meu melhor.  

Agora, falando sobre luta, o público do Combate é diferente; são pessoas que consomem e entendem de luta. Sou um rosto novo chegando, e o desafio é conquistar essas pessoas com meu conhecimento, mostrar que sei, posso e vou fazer isso."