• 27-07-2024

Professora é presa em flagrante por injúria racial contra duas alunas.

Com apenas 8 anos de idade, a filha de  Lorhane Abraão Sampaio  teve de comparecer diante de uma  juíza  para denunciar a  própria professora . Ela e outra colega da  Escola Municipal Estados Unidos , na região central do  Rio de Janeiro , dizem ser vítimas de ataques racistas da professora  Cristiani Bispo Valeriano . Os episódios teriam ocorrido em mais de uma oportunidade, mas somente na última sexta-feira (7), a professora foi presa em flagrante.  

 

A audiência de custódia foi no último domingo (9), e a prisão foi convertida em preventiva. A juíza  Ariadne Villela Lopes justificou a decisão pelo fato de a acusada ocupar  “posição de comando”  em relação às vítimas e por oferecer  “risco concreto à ordem pública” .  A professora deve se apresentar à Justiça assim que tiver alta do  Hospital Municipal Souza Aguiar , onde está internada.  

 

A filha de  Lorhane  tentou retomar a rotina na escola, mas não se sentiu confortável e disse que não quer voltar nunca mais.  “Ela foi hoje, mas falou que as crianças ficam o tempo todo perguntando o que está acontecendo. E ela não está conseguindo ficar lá. Eu preciso transferir ela, para que possa focar nos estudos e tentar esquecer o que passou. Sei que não vai ser fácil, a gente vai tentar um acompanhamento médico, um psicólogo fora da escola, porque ela não quer mais estar ali” , disse a mãe da menina.  

 

Colega da mesma escola, a filha de  Gabrielly da Conceição Bazilio também relatou ter sofrido ofensas racistas. Na ata da audiência de custódia, consta o relato das meninas de que a professora estabelecia uma regra em sala de aula, em que só era possível usar o banheiro uma vez por turno. Conforme o relato, uma delas perguntou se o nome estava na lista de quem já havia ido ao banheiro e disse que isso motivou a professora a agredi-la verbalmente com a frase:  “Preta! Você mora embaixo da ponte!”.    
 

Em seguida, a professora jogou bolinhas de papel nas meninas e as chamou de  “lixo” . Também consta na denúncia que a mulher furou outra aluna com uma caneta. Segundo Lohrane, a professora também disse que a filha fumava crack e que tinha cabelo duro.  

 

“Na primeira reunião da escola, as crianças já tinham reclamado com a gente. Essa professora tinha uma madeira dentro da bolsa, que ficava batendo na mesa das crianças, assustando-as. A gente conseguiu fazer uma reunião com a diretora adjunta, que passou a reclamação para a diretora principal. Só que não resolveram nada. Ela continuou lá. Até que começou a ofender e a machucar algumas crianças. Tem criança que foi arranhada por ela, que ela pegou forte pelo braço” , relata Lorhane.  

 

A Polícia Militar informou, em nota, que foi acionada na manhã de sexta-feira para atender uma ocorrência de injúria racial na Escola Estados Unidos e que os agentes foram atendidos pela mãe de uma das estudantes, que acusou a professora de racismo. Na ocasião,  Cristiani Bispo alegou que estava passando mal, foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e levada para o Hospital Municipal Souza Aguiar. A ocorrência foi registrada na 19ª DP da capital. A Polícia Civil disse que ouviu a professora e a autuou em flagrante pelo crime de injúria racial, tendo encaminhado o caso à Justiça.  

 

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação diz que afastou a professora de suas funções e instaurou sindicância para apurar o caso.  "Os alunos e seus responsáveis foram acolhidos e receberam apoio da equipe gestora da escola. A Secretaria reforça que qualquer forma de discriminação contra alunos é inadmissível, rigorosamente combatida e punida." O comunicado acrescenta que a professora está sujeita a ser demitida do serviço público ao término da apuração e destaca que a secretaria foi uma das primeiras no Brasil ao instituir a Gerência de Relações Étnico-Raciais, para "implementar políticas e práticas educativas que combatam o racismo e valorizem a história e a cultura afro-brasileira e indígena, formando alunos e professores comprometidos com a igualdade racial”.  

 

A defesa de  Cristiani Bispo Valeriano alegou que professora não pode ser responsabilizada criminalmente pelos seus atos por que é  “portadora de esquizofrenia e estava em surto psicótico quando proferiu os supostos xingamentos” . Ela não estaria em  “pleno gozo de suas faculdades mentais” , o que teria afetado a  “capacidade de compreender a ilicitude de suas ações” . Segundo a defesa,  Cristiani  faz uso de medicamentos controlados, já apresentou outros surtos psicóticos e precisou ser internada compulsoriamente. No momento, a professora recebe tratamento médico para sua  “reabilitação” .  

Redação Africanize

Redação do Africanize