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O caminho que por centenas de anos foi impossível de ser refeito. Entre Angola e Brasil existe um mar de histórias, resistência, dores, que permeiam a base da nossa formação cultural. Sob direção de Chico Regueira, Alexandre Henderson refez a rota que os escravizados faziam até chegar ao país, passando pela capital angolana, em direção à Pequena África, na Zona Portuária do Rio, e pela Restinga da
Exibido no Rio de Janeiro, na tarde deste sábado, e disponível no Globoplay, em celebração ao mês da Consciência Negra, o programa especial “Vim de Lá” mostrou a influência da cultura banto no nosso idioma e costumes, especialmente na cidade do Rio, local do mundo que mais recebeu pessoas escravizadas — cerca de um milhão somente no Cais do Valongo.
Destacando palavras, ritmos, comidas e costumes brasileiros que descendem de África, o programa promove o intercâmbio direto entre os dois lugares. Desde a feira de rua, até a vida noturna, é nítido como a forma de viver do carioca assemelha-se a dos moradores de Luanda. Em entrevista ao Africanize, Henderson conta que o projeto o fez perceber ainda mais a profundidade cultural do Rio de Janeiro.
— O encontro de Áfricas que aconteceu no Rio não foi possível nem do outro lado do Atlântico. Temos influência direta do grande tronco linguístico banto, nossa cultura bebe desta herança: o samba, a culinária, a religiosidade de matriz africana, através do candomblé de Angola. Reconhecer esse elo é também valorizar os nossos ancestrais que chegaram aqui violentados, mas que foram fundamentais para o alicerce da nossa cidade — explica o apresentador.
Em solo brasileiro, o programa mostrou a potência dos ritmos oriundos da população afrodiaspórica, explorando suas raízes que, por meio de batuques, permeiam expressões religiosas, a capoeira, o jongo e o samba. Além disso, abordou a diversidade gastronômica de pratos brasileiros que carregam a herança africana, como o acarajé, típico da Bahia, que conquistou todo o país.
Emocionando os espectadores, a visita ao Quilombo da Restinga da Marambaia trouxe histórias e acontecimentos marcantes da região, que ressoam em toda a população negra. Do fogão de cura de Dona Camila, preservado pela natureza com a árvore que cresceu em volta, às fundações de uma antiga senzala, a ilha, pouco conhecida até mesmo pelos fluminenses, teve parte, de sua gigantesca importância honrada pelo projeto.
Como uma verdadeira aula de história, “Vim de Lá” compartilha conhecimentos sobre a chegada dos negros escravizados ao Rio de Janeiro, destacando a significativa contribuição negra nos âmbitos político, econômico, social e histórico do país. O projeto visa promover a compreensão da dívida histórica do Brasil com a comunidade negra, evidenciando o impacto duradouro nas desigualdades atuais em áreas como educação e saúde.
— O programa propõe um olhar reflexivo sobre a dor que a diáspora africana produziu. A imigração forçada tem consequências até hoje no que diz respeito à realidade socioeconômica da maioria da população negra do nosso país. Falar sobre essa dívida histórica é fundamental. Ter esse olhar pode ser uma chama acesa para que a sociedade entenda, de uma vez por todas, que o racismo e o preconceito racial precisam ser combatidos. Não cabe mais deixar debaixo do tapete o horror histórico que os livros didáticos durante anos e anos invisibilizaram — conclui Henderson.
Apontando para o apagamento histórico e desconhecimento a respeito das consequências do processo forçado de diáspora e do intercâmbio de culturas, Chico Regueira conta que o principal desafio foi encontrar dados e informações para o desenvolvimento do programa. Diretor de primeira viagem, ele comentou também sobre o aprendizado de estar por trás das câmeras.
— Me impressionou o quanto é difícil buscar literatura sobre o tema. Os livros são raros, muito difíceis de encontrar. Eu sempre me preparo para qualquer trabalho lendo muito sobre o tema. Sou obcecado, então quero buscar tudo, saber tudo, conversar com todo mundo. Depois de ter os livros em mãos, ler a tempo de conseguir elaborar o programa foi o grande desafio. Foi muito interessante pensar previamente em todos os movimentos, pois escrever pensando em outra pessoa é totalmente diferente, acumulei experiências riquíssimas.
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