• 07-09-2024

Atriz Halle Bailey é atacada por sua cor e aparência desde que foi anunciada como intérprete de Ariel

Precisa ter uma capacidade de abstração da realidade absurda para não aceitar que o racismo é parte da bilheteria abaixo de "A Pequena Sereia". O filme estreou com US$ 118 milhões nos EUA, dentro das expectativas da Disney, mas mundialmente arrecadou apenas US$ 68 milhões, um número decepcionante e que liga o alerta para a performance financeira do filme  

Sim, jamais descartar análises de mercado técnicas, impacto residual da pandemia, mas todo mundo que trabalha ou vive o meio do entretenimento e cultura sabe que Halle Bailey recebeu ódio racial e não foi pouco.  

O filme está longe, muito longe ser uma bomba. É um filme redondinho, com falhas e acertos, sendo sua melhor qualidade a protagonista. Infelizmente, se o filme não chegar ao bilhão (e náo vai chegar) será uma vitória para os racistas que se engajaram em campanha negativa há dois anos.  

Eu entendo que críticos brancos não levem em conta a pauta racial quando escrevem uma crítica, nem é trabalho deles, mas nós, jornalistas e criadores de conteúdo negros sabemos que não tem como desvencilhar a existência de um corpo negro em uma obra do resto da mensagem, ainda que essa obra não seja um libelo de protesto.  

Lembro das piadas racistas contra o Michael B Jordan quando ele foi escolhido como Tocha Humana para o filme do Quarteto Fantástico e mais recentemente os ataques à série da Netflix que retrata Cléopatra como negra. Durante anos os pretos foram apagados ou retratados como seres servis, quando não animalescos e tudo estava bem no reino branco do entretenimento, agora que precisam encarar que pretos protagonistas não mudam as histórias, o afeto negativo exala em cima das teclas de computadores pelo mundo.  

Halle Bailey é uma estrela em ascensão e nenhum racismo vai frear isso, mas com certeza puxa um pouco freio das poucas mudanças que temos visto na indústria.